AINDA SOBRE OS QUATRO DESTINOS

Pela vida do primeiro orei, na hora da sua antiga e primeira agonia. Orei, de joelhos, perante o olhar de todos, diante de uma cruz ao ar livre. Orei, com as palavras que não conhecia, perante o Deus do qual, até então, apenas ousara duvidar da Existência.Orei, pela sua vida, a vida deste primeiro,sentindo que orava pela minha própria vida.

Pela vida do segundo enlouqueci, para lhe ser solidária na loucura.

Pela vida do terceiro incorporei, na pátria "própria", a sua inalienável solidão de estrangeiro "aqui e em toda parte".

Hoje me dou conta: nenhum deles conseguiu ( quem sabe, no interior de si próprio, cada um tenha tentado ) alcançar sequer um vestígio ou sombra da face da minha mais recôndita solidão.

Alguém dirá: "É preciso sempre oferecer a outra face".

Dirá, um segundo:" Nunca se deve esperar nada em troca do que se dá".

Um terceiro: "Baste, a cada um, a própria cruz. Quem, por orgulho ou carência ou seja lá qual outro motivo obscuro, julgue poder transferir para os próprios ombros, ainda que pequeno pedaço do lenho da cruz alheia, descuida-se da tarefa de carregar, com plena honra, o peso da cruz própria, alienando-se, assim, do seu efetivo destino no presente mundo.

Não consigo, no momento, pressupor o que diria um quarto alguém sobre o caso em questão; logo, deixo-o em aberto.

17 de janeiro de 2009.