Viciado em internet eu? Nada, eu paro a hora que eu quiser...

Faz quinze minutos que estamos sem internet aqui na agência. Quinze minutos. Dez vezes menos que o tempo que a minha namorada demora pra se arrumar pra sair. Cinco vezes mais do que a duração de uma relação sexual pra um homem normal. Pra alguém que trabalha com planejamento online, não ter internet é como pra uma apresentadora de TV não ter silicone, ou seja, simplesmente não dá. Eu me achava um controlado, achava que minha internet-mania era só profissional, que eu ficaria dias e dias sem ver emails se eu quisesse. Pobre de mim. Nesses quinze, agora dezoito minutos sem internet, tentei ver meus emails doze vezes. Tentei abrir a internet vinte e uma vezes pra ver se ela voltava. E entre uma tentativa e outra, já joguei futebol de peteleco, tomei café, fui ao banheiro, fuxiquei as gavetas todas da agência, folheei cinco revistas de propaganda e mudei a posição dos meus bonecos na mesa sete vezes. Eles agora estão um tomando banho de sol, outro sentado na borda do meu monitor e o outro defendendo com um feroz rugido o meu telefone.

Isso sem falar que estou há cinco minutos escrevendo isso aqui. Não estou esperando nenhum email urgente, não tenho nenhum site para ver que não possa esperar nem preciso ver a última notícia do Fluminense com pressa. Ou seja, não tenho nada urgente pra fazer na internet. Mas mesmo se a internet demorar mais meia hora pra voltar vão me expulsar daqui, ninguém gosta de uma criança enchendo o saco sem brinquedo em um lugar cheio de gente trabalhando.

Se eu não trabalhasse com isso eu estaria tão desesperado? Tenho que admitir, mas provavelmente sim. Morro de inveja quando mando um email e a pessoa demora dias pra responder porque “só vejo meus emails umas três vezes por semana”. Três vezes eu vejo o meu em um minuto. E de gente que não tem orkut? Se inveja matasse... Ah, a liberdade... Msn ajuda a manter meu namoro a distancia dentro dos limites do controlável pra eu não enlouquecer de saudade, mas orkut... Um dia eu apago ele de repente, quebro o monitor com o teclado, jogo o desktop pela janela e inicio uma cruzada de enviar cartas-bomba para lan-houses ao redor do mundo. Uma espécie de Unabomber pós-moderno.

Vinte e sete minutos. E entre o primeiro parágrafo e essa palavra aqui, já tentei ver se voltou doze vezes, mudei os bonecos de posição cinco vezes e li todas as mensagens do meu celular. Eu sonho com o dia em que vou morar em uma ilha longínqua, alugando bicicletas pra turistas, tomando mojitos, comendo caranguejos e dormindo em uma rede. Só não posso morar numa choupana com teto de palha porque se chover molha o notebook e atrapalha a conexão wireless. Todo mundo ia morrer de inveja das fotos das havaianas rebolando de saias de palha no meu orkut. Mas eu não sou viciado, ia levar um computador só pra não abandonar vocês. Eu sei que vocês não iam agüentar viver sem meus textos... No fundo, meu vicio de internet é altruísta, é tudo por vocês. Tudo por vocês.