Saudades de Emigrantes (Obrigado Caymmi)
A colônia paraense era muito forte no Rio de Janeiro. Tão forte, que foi criada, nos fins da década de trinta ou no começo da de quarenta, a Casa do Pará. Localizada no Centro nas proximidades da Academia Brasileira de Letras.
Muitos da colônia lá se reuniam, para jogarem “conversa fora”, saborearem comidas regionais e fazerem de conta que estavam de volta.
Hoje, apesar de diluída, a colônia, ainda é bem numerosa. São muitos os paraenses que vivem no Rio.
Naquela época, existia uma companhia de transportes marítimos que, se não me falha a memória, chamava-se “Companhia de Navegação Costeira”.
Todos os navios dessa Companhia haviam sidos batizados com nomes começados por “Ita” - palavra tupi-guarani que compõe muitos termos brasileiros e significa pedra, metal etc -:Itapé, Itaquicé, Itaité, Itaimbé... Era o transporte mais barato para o Rio e a viagem tinha duração de duas semanas aproximadamente.
O fluxo de paraenses era tão representativo, que Dorival Caymmi compôs “Tomei um Ita no Norte, para registrar o fenômeno.
O refrão era muito tocado nas rádios. A meiga voz de Caymmi cantava assim:
“Peguei um Ita no Norte,
pra ir pro Rio morar,
adeus, meu pai minha mãe,
adeus, Belém do Pará.”
Os que fazem parte da colônia paraense e que viveram aqueles tempos, quantas vezes sentiram um nó na garganta, atado pela saudade que os invadia, quando de um rádio chegava o refrão de Caymmi.
Foram as intenções: de registrar nossa saudade de emigrante, de agradecer e enviar um recado ao nosso grande músico e poeta, que pariram as rimas “Caymmi, Vou Voltar”
.
“Caymmi, Vou Voltar” sabemos que são singelas rimas, mas com certeza soarão doces aos ouvidos daqueles que tiveram de deixar Belém, mas sempre alimentaram a chama do desejo de voltar.
Caymmi, Vou Voltar
Há muito peguei
um “Ita” no norte
e vim no Rio morar.
Quarenta anos de saudades
fizeram o coração cantar:
“vou voltar à feliz cidade,
às margens da Guajará,
tomar açaí , tacacá,
pato no tucupi e ficar”.
Vou voltar à Belém do Pará,
a cidade das mangueiras,
para quando Outubro chegar,
sem sapato no pé,
acompanhar a padroeira,
a Virgem de Nazaré.
Vou voltar para, em vez da sesta,
nas tardes de Domingo
e no verde do Mangueirão,
transpirar a festa,
em azul e branco,
do “Papão” com o “Leão”
Vou voltar a minha cidade
de nome do som do sino,
e gozar com intensidade
minhas lembranças de menino.
Vou rever cantos, recantos, amigos
e procurar doces amores perdidos.
Sei que vou voltar
pois no dia em que morrer
e enterrado tiver que ser,
quero que seja com a mesma terra,
que me acolheu ao nascer.
Quero que seja com a mesma terra,
que me acolheu ao nascer.