Uma Prosa

Pedaços sugerem cortes. Falta, ausência. Incompletude...

Furos! Impossibilidade de dizermos a palavra-toda, a verdade-toda.

Um livro depois de construído eh uma imagem. Ilusão. Sombra!

Os versos são fios a esconder a falta. Cada palavra aponta para uma ou infinitas ausências.

Toda tentativa de ler a palavra como pronta e dada eh frustrada. O indizível da palavra faz parceria com o invisível da imagem. Ainda assim não são semelhantes, são singulares. A palavra sempre parcial. A imagem sempre sombra.Algo escapa das palavras e nelas.

O vazio da imagem se oferece no momento em que se vê o que de imediato não eh visto. Num instante a imagem capta seu observado e aponta para o que nela falta. Nesse momento ele busca aquilo que falta, talvez o outro pedaço da imagem. Talvez aquilo que falta a quem a vê. Ao final sempre se depara com lacunas.

Um livro eh feito de hiatos, de versos descompletados. De lacunas!

As palavras não são espaços vazios nem ocupados. São espaços! São furos, são pedaços de um tecido em que os fios são o singular de quem as escreve e de quem as lê. As lacunas das palavras e nelas se oferecem ao leitor. Num momento revela-se a falta. Rasgadas, trituradas...

O mistério, o oculto, o enigma... A ausência de cada palavra e de cada leitor tecem com singularidade o des-encontro entre o vazio e a ausência, o habitado e o invisível. Hiato.

Pedaços Singulares-Palavras Furadas... Um livro, uma imagem... Desencadeados.

Encontrar nas lacunas a impossibilidade de preenchê-las. Ainda assim deixar-se capturar pela falta e buscar seus momentos de verdade.

SoraiaMaria
Enviado por SoraiaMaria em 30/04/2005
Código do texto: T13874