Chuvarada

Edson Gonçalves Ferreira

Antes que a chuvarada caísse, na sexta-feira, veio um pé-de-vento danado e, do meio dele, saiu um saci-pererê que, entrando no meu escritório, soltou uma gargalhada e disse: _ Pardal, você está sempre lendo ou vendo filme ou na internet, dá um jeito de sair no vento como eu e curtir mais o olho no olho! Fiquei danado da vida e, na hora, respondi: _Ó capetinha, vai redemoinhar no vento e não me atrapalha que estava conversando com o Menino.

Na mesma hora, a Emília chegou e topou com o saci-perêrê e, então, entraram numa briga feia para ver quem era mais famoso na história da humanidade. Eu me sosseguei num canto e, então, o Menino

ficou sentadinho no canto do sofá, fingindo que nada ouvia. Quando a discussão começou a ficar mais calorosa, escute a Rainha de Copas chegando e mandando cortar a cabeça de todo mundo.

Foi exatamente neste momento que a raposa do Pequeno Príncipe entrou também e parou, aos pés do Menino, banando o rabo, com os olhos cheios de lágrimas. Todos silenciaram e aí percebi que eles não notaram, de imediato, a presença do Menino que, agora, imperava no escritório.

O Menino começou a conversar com a raposa e falou da sua preocupação com as catástrofes que andam pelo mundo inteiro: enchentes, nevascas, furacões, guerras. Lá fora, raios e trovões cortavam os céus e, então, falei da minha preocupação com quem não tem um teto para se abrigar. Notei que tanto o saci perêrê, a Emília, a Rainha de Copas mudaram as suas feições. Emília, contudo, não sossegou o facho e disse: _ Posso ser só uma boneca, mas tenho mais sensibilidade que muito ser humano. O Menino balançou a cabeça concordando.

Então, fiquei pensando na quantidade de impostos e taxas que pagamos todos os anos e, em troca, nada ou quase nada mesmo recebemos em troca. O Menino me ouvia com uma atenção danada. Falei que os aposentados sofrem e a propaganda do Governo sobre a Melhor Idade é tão falsa quanto os políticos. Quando se chega à terceira idade, um aposentado, não tendo sua aposentadoria corrigida, não tem como comprar remédios e passa necessidade.

O saci perêrê que tudo ouvia, levantou o dedinho e tirando uma tragada do seu cachimbo, disse: _ Desculpa-me, poeta, eu pensei que você ficava sonhando aqui e, na verdade, você está preocupado com o destino da humanidade. Eu falei que só fazia a minha parte, mas vi o sorriso tranqüilo nos lábios do Menino e a raposa me deu uma olhada apaixonada, pode?

Divinópolis, 14.01.09

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 14/01/2009
Código do texto: T1384489
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.