Sangue na plataforma
Caía uma chuva copiosa das densas e negras nuvens daquela primeira segunda-feira do ano de 2009. Parecia com uma película de um filme triste datando 1945 e filmado na década de 1980. Um desses filmes que terminam sem um final feliz. Nem ao menos parecem terminar.
Eu, ali, na chuva, parado apenas observando o corpo de um homem jovem que sangrava sem parar. Em sua cabeça, um ferimento exposto, causado pela pancada. A contusão tinha uma aparência vermelho-escura acentuada pelo embaçamento natural temporário que essas situações causam em pessoas extremamente suscetíveis a desatres. É claro que a intensidade das águas exprimiam com rigor a pouca nitidez da dura visão.
Como se não bastasse o sangue em sua nuca, este dissipava-se-ia espalhava-se-ia por toda a plataforma tornando-se uma aquarela de uma só cor; vermelho-cinza em tons mais ou menos claros. Cada vez mais claros, desde que se afastassem de sua origem.
Era como água brotando de sua nascente no topo de uma montanha. Ao invés de uma nítida e transparente correnteza dessa que é a principal fonte de vida de nosso caridoso planeta, jorravam da nascente rios de sangue, literais, não como o dos contos policiais com assassinos fictícios, espalhados e ao excesso para causar medo e atração. Aquele sangue era na medida certa. Medida certa para tirar do corpo a vida, a medida certa, não para fazer vender, mas para realmente apavorar e indignar qualquer um que nem sequer fosse admirador de cinema.
Com a chusma de pessoas que se aproximava do precipitado e sensacionalista cortejo fúnebre, fui obrigado a partir no primeiro trêm que apareceu.
Antes de encerrar a tragédia, contarei como se iniciou aquela fatídica primeira segunda-feira do ano.
continua...