O assalto.

Vou tentar narrar pra vocês fielmente a história do meu primeiro e último ASSALTO.
Devo avisar que eu tinha apenas seis anos, portanto não fui a vítima e sim a assaltante.
Eu não sei bem quando a idéia de assaltar me ocorreu. Eu ainda estava começando a ser alfabetizada, brincava com bonecas, tudo normal para uma criança da minha idade.
Próximo a casa em que eu mora havia uma bodega, daquelas que hoje chamamos de mercearias.
Sr João, era o dono e tinha uma filha chamada Lucy, que era minha professora. Estudávamos na casa dela como era de costume na época uma espécie de reforço escolar.
Pois bem, dentre tantas coisas que tinha a venda na bodega do Sr. João uma era especial pra mim, um pote de vidro enorme cheio de balas coloridas que nada mais eram do que uns amendoins cobertos por camadas de açúcar, verde, azul, rosa, amarelo...etc.
Eu lembro que um dia não sei por que lembrei daquelas balinhas...

Ainda não acredito. (hoje,rsrs)

Eu tinha seis anos e uma vida sem sobre-saltos muito pacata, isso me dava nos nervos.
Eu queria era subir no telhado e pular de cima como fazia o meu gato, queria voar pela janela , pegar o carrinho de rolimã do meu irmão emprestado (sem ele saber, claro) e despencar ladeira abaixo,cair de cara na areia, eu queria EMOÇÃO.

Voltando ao grande dia.

Tudo pronto, repassei tudo o que eu tinha planejado, quanto pediria das balas, onde deixaria o chinelo pra minha mãe não me ver sair sem eles, o que diria a ela pra poder sair de casa,fui mapeando toda a rua não queria nenhum imprevisto, tipo, um buraco pra cair dentro.
E claro eu precisava decorar a minha fala, não poderia ficar muda assim o Sr João não entenderia o que eu desejava, então fui treinando:

-Por favor, o Sr pode me dar 0,25 centavos de balinhas?
-Por favor, eu preciso de balas...0,25 centavos...0,25 centavos.

Pensamento

Ele me daria e eu sairia correndo a toda velocidade já testada, pronto estava tudo ok.
Acho que nunca tremi tanto.
Minhas pernas não eram minhas, minha boca estava seca, meu coração disparado, as mãos suando...
Antes que eu esqueça quero dizer que eu não era uma garota tão pobre que não pudesse comprar balas.

Lá fui eu determinada a cumprir o meu propósito.
Cheguei á budega e estava tudo certo, o vidro de balas em cima do balcão, Sr João sozinho.
Cheguei bem próximo do balcão, e na ponta dos pés disse:
-Sr João quero R$0,50 de balinhas.
Ele olhou-me desconfiado e perguntou:
-Sua mãe sabe que voce vai chupar todas essas balas?

Pensei:

Pronto e agora?
Lá se foi meu plano por água abaixo.
Pensei rápido e disse:
-Sabe sim, tô comprando pra hoje e amanhã.
Ele então, desenroscando a tampa do vidro, e o meu coração pulando, eu na ponta do pé firme.
Ele colocou tudo em um saquinho de papel e me deu.
Agora era comigo.
Acelerei tudo que eu pude voei pra casa, cheguei esbaforida o coração saindo pela boca, entrei pela porta da cozinha, minha mãe colocava a mesa para o almoço, perguntou onde eu estava, disse pra eu ir lavar as mãos e sentar pro almoço.
Eu não cabia em mim deu tudo certo.

Foi então que ouvi alguém batendo palmas na porta da frente e também não demorou muito pra eu reconhecer aquela vóz.

COMO FOI QUE ELE ME ACHOUUUU?

Lá vem minha mãe (pensei: vou levar uma surra daquelas)
Meu coração parou.
Me ferrei (eu não lembro como alguém da minha idade dizia que estava FERRADO naquela época)

Ela aos berros...
- Você fez o que ele esta dizendo?
- Fiz.
- Você pensou que eu não ficaria sabendo?
- Pensei.
- Devolva e peça desculpas A-GO-RA.
Fui buscar o saquinho de papel com as balas.
- Ta bom. Desculpa. ( olhos arregalados lacrimejando)
O meu castigo?

Naquela noite fui dormir sem ouvir o final da história que esperei por dias.
Esse negócio de assalto nunca mais não tem graça nenhuma.
Preciso pensar em outra coisa divertida de verdade.

Deixa ver... Que tal caçar libélulas no quintal?


Foto por. Alanée Rodrigues
Modelo. Manoela









alanee
Enviado por alanee em 13/01/2009
Reeditado em 18/06/2010
Código do texto: T1383374
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