Madrugada

Agora bem sei que a madrugada, sim, é companheira. Fiel e silenciosa aos meus sentimentos, pois a ela entrego minhas fraquezas e pudores, meus sonhos. Maliciosa e perigosa, quando entrego à insistência corporal do cansaço, deito banhado em dor, e não adormeço. Penso e repenso, sobre um nada que insiste em me perturbar.

Levanto e logo escrevo, desabafo como um pobre mortal sem alma, um moribundo que vaga a um destino incerto e fugaz. Pobre de mim, que por bares passo a procura das minhas respostas, que bebidas fortes e amargas sorvo para espantar a amargura do dia.

O dia é hipócrita, apesar de claro e transparente, do rosto feliz e da alma serena. É o dia que nos perturba com mentiras, com a sobrecarga. Não gosto de sorrisos falsos, de olhos brilhantes, e muito menos palavras serenas.