Bebamos!

aos piás Joãozinho e Maykell

Certa feita, em uma mesa de bar, conversávamos uns amigos e eu acerca de um sem-número de coisas; entre elas, um projeto nosso de coletânea, reunindo alguns bons escritores desta nova safra de poetas locais!

Devo sinceramente a idéia até (desse projeto) a Thiágo(ras) (da Validuaté), que, sempre quando esbarrávamos, era batata a pergunta:

– E o livr(et)o, Arumeda, sai ou não sai?!

E eu, já emputecido com aquilo, depois de alegar, pela milionésima vez, que não tinha grana o suficiente, sugeri (Não! Não foi para ele ir aquele terrível lugar!):

– Façamos uma coletânea, então!

Sim! Por que não? Uma coletânea e descarada vaquinha literária: João Henrique, Maykell Francis, Kadja Ravena, Jaqueline Bezerra, José Augusto Sampaio (que é arretado baiano de alma e futuramente prole teresinenses), Maçone, Raquel Guedelha... Thiágo(ras)? Saltou fora! Está em outra (balsa)!

Tocamos ainda [os compadres da mesa (ou "comparsas", de acordo com Maçone, à uma pequena que me ligava certa vez) e eu] no delicado assunto que envolve uma tal ortográfica reforma que, literalmente e à princípio, carecerá de uma senhora mão de obra!

Eu, como escritor, desde já, afirmo que farei frente! E penso que nós, vates, cronistas e romancistas, assim como os professores de Português, gramáticos, pedagogos e estudiosos da Língua, deveríamos fazer todos uma grande barr(ic)ada!

Universalizar a Língua pátria, primeiramente extirpando o trema (que nos dá a gráfica e exata medida ou distinção da pronúncia que há entre palavras como "saquê" e "tranqüilo") e, muito em breve, os demais acentos? Ora, pois, pois...

Não julgo certo!

Justamente a nós, que falamos um Português repleto de magníficas palavras em Tupi e Iorubá? Centenas com acento!

É a nossa Identidade como brasileiros, toda a nossa formação lingüística, passada de ouvido a ouvido, de folhetim a folhetim, que atiramos assim? À lixeira de algum estúpido (Não, geralmente é mais de um!)?

Um país com dimensões continentais, de miscigenadas cultura e cor de pele, sim! Mas é isto que é o Brasil!

Levar (daqui) os acentos é como tapar a minha boca! E eu recuso-me a ser tão covarde! Se escrevo porque respiro, isto certamente me sufocaria!

Já não basta a vergonha nacional de um grande pelotão (não só de jogadores de futebol ou transeuntes, pêgos, no susto, por algum programinha de merda, mas de futuros administradores de empresa) desconhecer trechos televisivos do "Ouviram do Ipiranga", histórica balela?

Ou seria o "Caminhando e cantando" de Vandré melhor escolha? Hino de luta que é e que nos representou muito bem um espírito, uma â(n)s(i)a que infelizmente já não mais se ouve.

Mas aí, tomei a decisão de virar o meu copo! Os amigos me alertavam que já estava esbravejando e a dar uns bons tapas na inocente mesa, coitada!

O que fazer, então? Bebamos! Bebamos!

Ademais, se continuasse, teria de substituir o título por outro, como... Deixe ver... "Borrão de mordaça"!?

E o caso, aqui, é leve ou ligeiramente, enfim, descontraído!

Contava um dos comensais, antes ou depois dos sete pulos no mar (que não deu), das maravilhas do Recife, como igrejas em mármore e um túnel subterrâneo que interligava todas do lugar! Obra de invasores holandeses que perdura até os dias de hoje!

Mas mal (em mim) da poesia! Pois arrasta-me, vez em quando, de rodas enfadonhas ou interessantíssimas!

Viajei, senti uma borboleta embriagando-me de orquídeas, divaguei, cheguei a ouvir o solo de La Belle du Jour, vi esparramando-se a lua sobre um colorido mar que refletia a queima de fogos, senti saudades homéricas, dei meus pulos (do peito) e quase estatelei-me, envolto em bandeira de couro de bode, no túnel que passa por debaixo da rua Olavo Bilac!

(Não! Creio que tenho de consultar o catálogo!)

E desci do bonde, quando me dei conta, subindo uma das ladeiras de Olinda!

Este meu compadre, poeta e músico, topou de frente com ninguém mais, ninguém menos que Alceu Valença, que tirou uma ou duas fotografias, reparou no rebuliço que já provocava nos turistas e adentrou ligeiramente em sua belíssima residência, da qual fez, certa vez, a seguinte revelação:

– Em Olinda, as pessoas não moram: Namoram!

Gracejo de Alceu e mil navios a ver um dos meus (sem vias de escapatória)!

Moral da história? É que se você (artista, ilustre desconhecido e lascado) compõe (desde os primeiros "psius" ou escondidos passos à namorada ou talvez desde os primeiros assombros com os olhos de Deus em seu profanado banheiro), toca (seja violão, gaita, gonguê, sax, agogô, teclado...) e canta, mas não é um Freddie Mercury ou uma doce Marisa da vida [Por que não pôr, aqui, no meio, o "r" entre parêntesis (de modo que fiquem duas)? Simples! Porque se não cedo a modismos de oito meses (Acho que é o tempo de encheção das novelas!), imagine-se o de semanas! Nem tampouco vejo os selos das cartas enfeitadas pelo aval de olhos muy, mas muy familiares!

Tudo bem que são férias, mas hoje em dia, os anjinhos já não desgrudam as asas mais tão cedo (sem cantigas e histórias que não passam do resumo do resumo da sinopse)...]...

Então, a moral é: Se você compõe, toca e, por fim, canta (Sapateia, não! Já é exagero e despropósito!), ande (ou nade) sempre com seu instrumento em mãos (ou na mochila)! Acredite, meu querido: É como caneta (em ônibus) para a poesia!

a 09 de Janeiro de 2009