ENTRE PAIS E FILHOS
Nem sempre a convivência entre pais e filhos é uma eterna maravilha. Assim como a relação entre marido e mulher, a relação entre pais e filhos tem suas crises existenciais. Pelo menos é o que eu tenho escutado dos amigos em comum e, claro, tenho tirado lições da minha própria convivência e experiência de pai.
Outro dia, eu estava conversando com um amigo - pai de três filhos -, mas, o que mais me chamava a atenção na nossa conversa, não era o nosso diálogo, mas o olhar dele para o relógio. A todo instante ele olhava para o pulso, onde estava o relógio, e parecia que isso, de certa forma, lhe incomodava. Não aguentando mais de tanta curiosidade, perguntei-lhe o motivo daquela insistência com relação às horas.
"É que eu saí de casa dizendo que vinha para cá conversar um pouco e o meu filho já foi logo dizendo que ia precisar do carro e que eu voltasse logo. O interessante é que eu, depois que ele aprendeu a dirigir, tenho que lhe pedir o carro e, mesmo assim, dificilmente eu consigo tê-lo para visitar, por exemplo, um amigo" – disse, olhando mais uma vez para o pulso onde estava o invento de Santos Dumont, e continuou:
"O interessante é que eu estava conversando sobre isso com um irmão meu e ele me disse que, no caso dele, ainda é pior. O filho dele comprou, com o fruto do trabalho, o primeiro carro. Até aí tudo bem. Só que ele foi pedir a chave para ir a determinado lugar e, simplesmente, o filho disse que ia lavar o carro e não podia emprestar" - completou.
Ri, pois me lembrei que já tinha ouvido isso de outras confidências. Aí, para não perder o bonde da conversa, recordei de vários desajustes entre os que já são vividos e aqueles que se consideram vividos o suficiente para não aceitarem conselhos e, ainda por cima, acharem de dar os mesmos conselhos aos que já passaram por tudo aquilo que eles ainda irão passar. Eu, particularmente, anoto e, quando tenho oportunidade, mostro-lhes.
Para início de conversa, pai é o saco de pancadas dos filhos, no bom sentido, claro. Vejamos: se você quer aconselhá-los, eles dizem que nosso tempo era outro, que hoje tudo está mudado e nós não sabemos mais de nada. Ledo engano, pois quando eles se veem nas enrascadas das quais os advertimos, correm para nós e pedem nossa ajuda: não teria sido mais fácil ter seguido os conselhos e evitado ter se machucado? O pior é que desmanchar as imprudências deles dá um trabalho!
Outra coisa que filho adora fazer com o pai: se menor, trazê-lo e levá-lo para onde ele quiser ir. Ah! E no tempo dele! - Não no seu. Você pode estar no meio da reunião mais importante de sua vida, o celular toca e é ele lhe chamando para pegá-lo em determinado local. Se você diz que no momento é impossível, ele desliga e, em cinco em cinco minutos, liga perguntando se você já pode ir buscá-lo. Se maior, ele liga, mas é para lhe dizer que não pode ir pegá-lo, que você se vire, como por exemplo, vindo de moto-táxi. Vale dizer que, neste caso, o carro está com ele, não com você.
Lembrei-me, então, de um conhecido que disse que a filha, quando está lhe visitando, o deixa de motorista nos mais diversos locais da cidade, enquanto ela passa horas e horas fazendo compras. E ai dele se sair do local onde ela o deixou!
Agora, em contrapartida, vá pedir alguma coisa para os filhos. Sempre eles têm uma desculpa para não fazerem o que nós, pais, pedimos. E quanto a você perguntar alguma coisa, de cunho pessoal, para eles? A resposta vem em monossílabos, inaudíveis - isso, já de costas para você - e com uma irritação própria da idade. Se você insistir, a resposta vem em cima da bucha: "Papai, o senhor está me estressando, não percebe?"
Pronto, morreu ali o diálogo. Agora, o inverso: eles vasculham sua vida, perguntam sobre tudo, mexem nas suas coisas, questionam sua maneira de vestir, de sentar-se, de sorrir, de falar, de comer e, se você não for convincente nas suas respostas, o comando já mudou de lado: você passa a fazer parte dos que devem obedecer e não o contrário.
E celular? Já prestaram atenção que eles passam o dia inteiro falando ao celular - com todos os amigos - e quando você pede para eles ligarem para você, em determinada hora, eles sempre dizem que não têm créditos para isso e só ligam a cobrar?
É claro que, no final, tudo se resolve, pois família é família e na hora do aperto, da necessidade o que prevalece é o amor que existe entre eles.
Mas, voltando ao assunto do amigo que não parava de olhar o relógio: de fato, em menos de cinco minutos, o celular tocou e era justamente o filho querendo o carro de volta. Apenas rimos. Fazer o quê?
Nem sempre a convivência entre pais e filhos é uma eterna maravilha. Assim como a relação entre marido e mulher, a relação entre pais e filhos tem suas crises existenciais. Pelo menos é o que eu tenho escutado dos amigos em comum e, claro, tenho tirado lições da minha própria convivência e experiência de pai.
Outro dia, eu estava conversando com um amigo - pai de três filhos -, mas, o que mais me chamava a atenção na nossa conversa, não era o nosso diálogo, mas o olhar dele para o relógio. A todo instante ele olhava para o pulso, onde estava o relógio, e parecia que isso, de certa forma, lhe incomodava. Não aguentando mais de tanta curiosidade, perguntei-lhe o motivo daquela insistência com relação às horas.
"É que eu saí de casa dizendo que vinha para cá conversar um pouco e o meu filho já foi logo dizendo que ia precisar do carro e que eu voltasse logo. O interessante é que eu, depois que ele aprendeu a dirigir, tenho que lhe pedir o carro e, mesmo assim, dificilmente eu consigo tê-lo para visitar, por exemplo, um amigo" – disse, olhando mais uma vez para o pulso onde estava o invento de Santos Dumont, e continuou:
"O interessante é que eu estava conversando sobre isso com um irmão meu e ele me disse que, no caso dele, ainda é pior. O filho dele comprou, com o fruto do trabalho, o primeiro carro. Até aí tudo bem. Só que ele foi pedir a chave para ir a determinado lugar e, simplesmente, o filho disse que ia lavar o carro e não podia emprestar" - completou.
Ri, pois me lembrei que já tinha ouvido isso de outras confidências. Aí, para não perder o bonde da conversa, recordei de vários desajustes entre os que já são vividos e aqueles que se consideram vividos o suficiente para não aceitarem conselhos e, ainda por cima, acharem de dar os mesmos conselhos aos que já passaram por tudo aquilo que eles ainda irão passar. Eu, particularmente, anoto e, quando tenho oportunidade, mostro-lhes.
Para início de conversa, pai é o saco de pancadas dos filhos, no bom sentido, claro. Vejamos: se você quer aconselhá-los, eles dizem que nosso tempo era outro, que hoje tudo está mudado e nós não sabemos mais de nada. Ledo engano, pois quando eles se veem nas enrascadas das quais os advertimos, correm para nós e pedem nossa ajuda: não teria sido mais fácil ter seguido os conselhos e evitado ter se machucado? O pior é que desmanchar as imprudências deles dá um trabalho!
Outra coisa que filho adora fazer com o pai: se menor, trazê-lo e levá-lo para onde ele quiser ir. Ah! E no tempo dele! - Não no seu. Você pode estar no meio da reunião mais importante de sua vida, o celular toca e é ele lhe chamando para pegá-lo em determinado local. Se você diz que no momento é impossível, ele desliga e, em cinco em cinco minutos, liga perguntando se você já pode ir buscá-lo. Se maior, ele liga, mas é para lhe dizer que não pode ir pegá-lo, que você se vire, como por exemplo, vindo de moto-táxi. Vale dizer que, neste caso, o carro está com ele, não com você.
Lembrei-me, então, de um conhecido que disse que a filha, quando está lhe visitando, o deixa de motorista nos mais diversos locais da cidade, enquanto ela passa horas e horas fazendo compras. E ai dele se sair do local onde ela o deixou!
Agora, em contrapartida, vá pedir alguma coisa para os filhos. Sempre eles têm uma desculpa para não fazerem o que nós, pais, pedimos. E quanto a você perguntar alguma coisa, de cunho pessoal, para eles? A resposta vem em monossílabos, inaudíveis - isso, já de costas para você - e com uma irritação própria da idade. Se você insistir, a resposta vem em cima da bucha: "Papai, o senhor está me estressando, não percebe?"
Pronto, morreu ali o diálogo. Agora, o inverso: eles vasculham sua vida, perguntam sobre tudo, mexem nas suas coisas, questionam sua maneira de vestir, de sentar-se, de sorrir, de falar, de comer e, se você não for convincente nas suas respostas, o comando já mudou de lado: você passa a fazer parte dos que devem obedecer e não o contrário.
E celular? Já prestaram atenção que eles passam o dia inteiro falando ao celular - com todos os amigos - e quando você pede para eles ligarem para você, em determinada hora, eles sempre dizem que não têm créditos para isso e só ligam a cobrar?
É claro que, no final, tudo se resolve, pois família é família e na hora do aperto, da necessidade o que prevalece é o amor que existe entre eles.
Mas, voltando ao assunto do amigo que não parava de olhar o relógio: de fato, em menos de cinco minutos, o celular tocou e era justamente o filho querendo o carro de volta. Apenas rimos. Fazer o quê?
Obs. Imagem da internet