A Dança do deus Mu
Mudança é assim mesmo. Uma bagunça. Encaixotamos tudo. Aproveitamos para descartar coisas. Para relembrar coisas. Jogamos fora e depois voltamos atrás. Não jogamos e depois nos arrependemos. Esvaziamos gavetas. Despimos armários. Enrolamos fios. Pegamos a bolsa, apagamos as luzes e fechamos a porta. Porta que se abrirá em outro lugar, melhor, pior, diferente, novo. E o que fica para trás é despedida, lembrança, visitas eventuais, cada vez mais esparsas, cada vez mais raras, até deixarem de existir.
Mudanças são assim. Qualquer mudança. Mudança de casa, de emprego, de amor. Mudança de vida. Mudamos e aquele nós que sai de um lugar não é o mesmo nós que chega ao outro. Levamos as caixas lacradas, mas o que desencaixotamos são bagagens bem diferentes. Quem será que violou os pertences tão bem guardados, enrolados, protegidos em folhas de jornais da semana passada? Ninguém sabe e, se soubesse, não haveria como provar.
Mudanças, de certa forma, são todas iguais. Algumas vezes, vamos. Em outras ficamos. Apenas assistimos alguém partir. E a mudança acontece do mesmo jeito. Ver alguém encaixotando a sua vida faz a nossa própria vida mudar. Ver um amigo colocando a casa na mochila faz a nossa própria viagem começar. Ver um amor tomando um rumo novo nos faz pensar no que irremediavelmente andamos perdendo por aí - por culpa de caixas mal vedadas, de sacolas furadas, de nós mal dados. Pensamos, então, por que não mudamos, de que forma mudamos, o quanto precisamos mudar também.
Quando o deus Mu dança, não importa aonde, não importa com quem, não importa se longe ou perto, sentimos a brisa de sua saia no rosto e nos arrepiamos inteiros. Mudanças existem, fazem parte, são imprescindíveis e, muitas vezes - na maioria delas - mudanças são boas. Mudanças vêm para o bem.
Mudanças, em alguns momentos-chave de nossas vidas, são tudo o que precisamos para continuarmos os mesmos.