VIAGEM SENTIMENTAL
Viajar é deslocação sentimental. Garrett sabia disso, e viajou, à roda do seu quarto, na nossa terra, e sobretudo no seu coração e cabeça. Que heterónimo de Pessoa disse: a melhor maneira de viajar é sentir? O "grand tour" era uma iniciação: ao sentimento pelo Mundo.
Haverá melhor coisa que viajar por fora e por dentro?
Fui a Lisboa a uma entrevista para a televisão, sobre integração europeia: reminiscência e promessa de viagens. No comboio, levei uma revista de viagens. Tríplice viagem.
Folheando as fabulosas páginas dessa minha já habitual companheira de viagem, deliciei-me até com a publicidade.
Simples professor, jamais terei dinheiro para um Peugeot 308. E apesar de o casaco da Gant ter bordado um emblema universitário, tenho as maiores dúvidas de que algum dia possa chegar a algum. Mesmo assim, sonha-se. Não com carros e casacos: pequenos sonhos seriam esses... Sonha-se mais alto, com grandes viagens. E também viagens grandes. Algumas para além do tempo e do espaço.
Mas retomemos os pés na terra.
O universitário tem do mundo um roteiro exótico e sentimental: relembra as terras pelas conferências que lá fez. Neste número, recordei a Granada do Direito do futuro; Brasília, em trânsito, a caminho dos Valores Constitucionais, as montanhas de Heidi e os Fundamentos do Direito...
Páro, e vejo a minha grande pirâmide do Louvre, dessa Paris em que fiz o primeiro doutoramento. E apesar da bruma, é a saudade. Adiante, revejo a Bahia, onde falei da Propriedade, Amesterdão, para onde fugi a um curso na Alemanha. "Grand finale", entra-me pelos olhos dentro Paraty: idílico e histórico poiso entre conferências no Rio e em São Paulo.
Porque não fazem congressos, cursos ou conferências na Jamaica, no Tibete, no Butão?