Conversa

Por que amamos não vem agora ao caso. A cabeça dói-me, o corpo me está em frangalhos. Sei que tu, meu leitor, nada tens a ver com meus problemas; então pulo esse amor que me corrói a alma e falo-te de coisas mais prazerosas. Conto de um anjo que a vida me deu (Ainda tenho mais três fora este!).

Era uma tarde como a de hoje... Só não era cinza...

Abimael, olhos faceiros, impregnados de amor, cuidou de me olhar o sorriso.

_ Vamos, mãe, conte logo!

_Sim, meu filho, voltamos hoje para nossa casa...

_ Isso, sim, é uma ótima notícia. Vejo em seu semblante a felicidade de voltar a seu canto sossegado, dona Teresa_ E riu comigo.

_ Muito bem. Então passemos a encaixotar nossas coisas; e você, meu filho, vá falar com seus tios para nos ajudarem na mudança!

Um dia, o rio encheu e tomou nossa casa, fomos morar em outro bairro por uns meses. A tristeza foi total (-) A água chegando, meus filhos coração na mão, correndo de um lado a outro na varanda com o desejo de aquilo ser só um pesadelo- mas foi muito real. E fomos obrigados a deixar nossas marcas de riso entre as paredes que em poucas horas passaram a abrigar cobras, pedaços de árvores mortas, alguns objetos pessoais de outras famílias que não tiveram tempo de recolhê-los e foram-se nas águas...

_ Mãe de meu coração, não fique aí com esse olhar perdido; levante-se e nos ajude... Seus livros estão chamando-a... Pedem suas mãos amadas para colocá-los dentro de uma caixa. Venha, minha querida... Venha!

Era o mês de março de 2004. Foi nesse dia que senti um pouco a morte.

Mas a morte um dia virá! Que também goste de amar; porque há um lugar com uma sinfonia no ar dizendo-me que todas as dores passarão...

Já vi grandiosos funerais de amor... Não peço tanto... Só uma flor... Uma saudade e um poema (...) não me cheguem versos surdos e, sim, aqueles a falar de um amor...

Oh, meu filho... Põe tua mãe no colo e canta a velha canção que eu te cantava ao berço... Fala que a chuva já passou e as enchentes são somente no inverno... Diz ao meu ouvido que eu não posso morrer por esse amor...

Estás certo; não há razão de eu amar um homem sem (...)

Vede as flores? Elas estão aí abraçando a vida. Elas sabem quando desabrochar... É simples a elas deixar-se ir com o vento numa tarde cinza...

Meus olhos entornam sonhos tristes. Se sigo, filho, é por ti e por tuas irmãs. Foi sempre assim... Há anos é assim. Mas parece que perco algo dentro de mim. No entanto, a vida me ensinou que sou uma pessoa de sonhos... E há verdades simples... Posso crer que amanhã virá um novo dia... E amizades são tesouros... Ainda posso tê-la! Não é (?)...

_ Vem, leitor, passo-te um café...

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 10/01/2009
Reeditado em 12/01/2009
Código do texto: T1377850
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.