Um Rancho chamado Eldorado
Quando olhei para o céu, vislumbrava estrelas, que iam desaparecendo, não sabia se era por causa do meu estado sonolento da viagem, ou se era algo mágico que estava ocorrendo. O céu aparecia em buracos por entre as nuvens alvas e cometas riscavam o azul escuro. No horizonte delineavam montanhas negras e crispas e o cheiro virgem de mato impregnou meu ser, e adormeci, pensando ter chegado no Horizonte Perdido. O que descobriria mais tarde tratar-se de um Eldorado perdido.
Por uma serra sinuosa, e ainda sonolento, fui conduzido a um caminho fantástico, de trilhas e cachoeiras cristalinas, e mesmo a noite, pude perceber traços de sua beleza.
Quase não falávamos, o cansaço estava visível em nossos rostos e corpos, as palavras eram como fardos pesados. Contudo a cada curva, parecia que o ar mágico nos restaurava, olhei para o céu e nos intervalos entrecortados das montanhas, pude vê-lo, azul e repleto de estrelas, essas pareciam estar cada vez mais perto, nítidas e brilhantes. Ao descer do carro, tive a certeza de que o que James Hilton escrevera em Paraíso Perdido era um pedaço daquele lugar.
Olhei ao redor e pude ver que estávamos cercados de montanhas, era um grande vale, olhei para o alto, e o céu estrelado era como um manto, a nos cobrir com milhares de pontos multicores. Se havia um paraíso na terra, definitivamente ali era o lugar. Ao redor, nos quatro pontos estratégicos, chalés apareciam como moradas de Anjos, e depois fui descobrir que realmente o eram, cada uma com seu nome angelical.
Tive uma das noites mais fantásticas de minha vida, um sono profundo e restaurador, a ansiedade de descobrir um pouco mais, ficaria para depois, logo depois, afinal eu não tinha pressa, não cabia mais apressar o que já estava acontecendo, eu já estava no paraíso, e os anjos me protegiam agora.
O amanhecer foi mágico, os brilhos de sol por entre a neblina davam a sensação de onisciência ao lugar, os animais passeando e seus sons pareciam como pinturas em movimento, viva e constante, era impossível não emocionar-se, era verdadeiro tudo aquilo, e não cabiam sentimentos impuros, a luz que brotava no céu agora oceânico, dava a sensação estranha de liberdade e pureza divina.
Caminhei por entre trilha, numa grama artisticamente aparada, e o canto dos pássaros não saiam do meu MP3, mas da macieira a minha frente, assim como de outras tantas árvores a que circundavam o lugar.
Não cabiam palavras, não haveria poesia que pudesse descrever aquele lugar, plantado no meio das montanhas. Cabia sim o desabafo o suspiro no meu peito inquieto que parecia querer explodir, gritar para ouvir o eco de minhas palavras auxiliadas no farfalhar dos pássaros, de que era ali o Eldorado, onde o amor se encontra em formas naturais, onde a água brota do chão imaculado, onde as pessoas sorriem umas para as outras com carinho. Sim! Eu poderia contar para milhões de pessoas que eu estivera ali, num pedacinho do céu, rodeado de anjos, em Lumiar, no Rancho Eldorado, embalado no sono angelical e despertado novamente para a vida mais pura do que se há para ter.
*Post de 18 de Abril de 2008 em www.cantosecontos.wordpress.com