Renascimento da Poesia

Tudo estava rumando para outros horizontes, algo um pouco distante do lirismo que nasceu em mim. Não saberia dizer ao certo como fecundei meus primeiros versinhos, apenas me lembro que foi em um calmo andar de bicicleta, em qualquer lugar de algum município litorâneo aqui do Sul. Tinha meus doces valores e projeções do que poderia ser o amor, tal como beijar a mulher amada em ato de carinho sempre recíproco. Infelizmente, ou não, nosso destino nem sempre é o que planejamos e, carregado pela lei da inércia, afastei-me um pouco da poesia e de toda sua beleza.

Claro que a inspiração nunca me desamparou, e posso até afirmar que sempre me acolheu como uma mãe prepara um filho. Talvez essa inspiração visite meu coração toda vez que uma mulher brilhar em meu olhar, matando, aos poucos, a tranqüilidade de um sonhador. Naturalmente seria muita futilidade apaixonar-me por qualquer menina, no entanto, posso dizer que a paixão - tal como a primavera - debruça não menos que periodicamente em meu imenso coração, anualmente. As tardes ensolaradas cedem mais espaço para a chegada das borboletas, que de forma incessante, adormecem por todo meu peito.

Quando cheguei àquele encontro amistoso, deparei-me com duas moças - a predestinada estava com a amiga -, então logo pensei que seria o fim de qualquer sentimento ou envolvimento. Por alguns minutos intermináveis ouvi aquele diálogo que parecia embaraçar meu destino. Contudo, tive sorte, pois, logo e de repente, a amiga indesejável foi-se embora e eu (pobrezinho de mim) ganharia todo o tempo para desvendar o porquê daquele olhar ser tão interessante para minha poesia... A menininha, então com seus vinte e poucos anos, levou-me para ver o sol se esconder, na beira de um esplêndido rio, que minha majestosa terra carrega. Ah! Quantas amigas diziam querer me conquistar desde a infância; quantos problemas familiares e amorosos fizeram aquele coração ferido padecer! Juro que não pensei que tudo findaria, visto que o medo de se queimar é mais doloroso que a própria queimadura... mas, quantas vezes morri em mim naquela tarde!

Debruçávamos em uma rocha de um sentar tão macio quanto todos os conjuntos de pétalas primaveris. A sonoridade do ar que saia de seus lábios, formando palavras, diagnosticava sílaba por sílaba, e se transformava na mais bela melodia que meu coração já provou. Nunca poderia descrever fielmente tal prazer: quando senti seu olhar junto ao meu, compreendi que nunca havia amado alguém e que, dentre todas as mulheres do mundo, você fora a mais idolatrada por meus versos - antes mesmo de minha chegada ao planeta. Será que a moça pensava em mim? Será que seu olhar não imaginava outro poetinha de corpo e rosto mais belo? Será? Será?

Tantas incertezas apagavam de minha memória o fato de que, além de nós, existia um mundo inteiro com amantes, contas para pagar e falsos brilhantes... mas o que importa, já que o sol havia se escondido e a reciprocidade provou que éramos vencedores do tempo? Enfim, não mais que de repente, surgiu brilhante no céu - muito cheia, branca e nua - minha maior confidente:

- Oi amada lua!

Você nem percebeu que não estávamos sós e ainda sorria! Provou muito que, dentre tantas, possuía amor puro... Sua perna esquerda – muito inquieta – já se debruçava sobre meu colo. Ai, menina, como queria que todos os meus problemas fossem limitados por apenas o peso de suas pernas; queria que todos os meus poemas fossem assim - recheados pela pureza da linguagem corporal.

A aproximação foi a conseqüência fatal, posto que resistíamos aos carinhos e ficávamos felizes ao saber que, mesmo à distância, nossas vontades eram iguais. À noite me açoitava como um escravo; o adeus queria me visitar e o tempo da tarde já havia passado, dando espaço aos perigos e mistérios de um ciumento e indizível luar. Agradeço-lhe por digredir meus beijos e carícias, pois a poesia gosta de ser assim – tão sublime...! É hora de partir; é tempo de voltar... Sabes quantos versos cabem para a descrição do seu andar de mãos? Pois voltamos assim, de braços dados e pensativos. Estávamos confusos em meio a tantos sentimentos: será que poderíamos nos machucar? Será que a velocidade do tempo conseguiria nos decepcionar? Não posso dizer, não sei contar...

Lembro-me que, ao olhar para trás, mirei estrelas que soluçavam aos prantos - por tanto penar... Na linguagem do universo, diziam para mim:

- Não vá, aproveite o barulho das águas do rio! - ai das estrelinhas, sempre românticas e esperançosas; sempre em contato com o poeta.

- Pois é, minha amada não sabe que o amor nunca pode esperar – respondi em pensamento. Hoje agradeço seu olhar, pois ele foi os tijolinhos da manutenção de minha poesia.

Paulinho Parada
Enviado por Paulinho Parada em 09/01/2009
Reeditado em 09/01/2009
Código do texto: T1375864