A Solução Final
Recebi um e-mail de congratulações pela minha crônica " Ai de ti, Guanabara ". Nele, o missivista eletrônico pensava cerrar fileira comigo sobre a questão do caos urbano. Com um ar pessimista que, aliás, não tenho, dizia-me ele: " o que não tem remédio, amigo, remediado está ". Não, o Rio tem jeito, claro que tem.
Também não concordo em parte com a opinião da Cora Rónai ( O Globo, 08/01 ), quando atribui a causa dos nossos males à Fusão, que riscou a Guanabara do mapa, mas não do coração do carioca, e à transferência da Capital Federal para Brasília. Esses fatos criaram novos problemas que não foram enfrentados em seu nascedouro, pois sempre deixamos que o ovo da serpente eclodisse. E não foram enfrentaos - e aí eu devo aplaudir a cronista - porque elegemos um governo canalha atrás do outro como se fôssemos masoquistas convictos.
Quando ironizei o " choque de ordem " do prefeito Paes - esse fariseu populista -, eu não estava defendendo a permanência dos mendigos em seus guetos do Centro, Zona Sul e Barra a fim de barrar qualquer onda migratória. Afinal, eles estão em toda parte devido a falta de políticas públicas inteligentes. As migrações serão sempre uma resposta espontânea toda vez que houver uma caça às bruxas.
O que eu quis mostrar, no entanto, é que eles não podem ser abduzidos - na linguagem oficial trata-se do cínico " acolhimento " - num passe de mágica porque a temporada de turistas e o Carnaval estão chegando. A sua desaparição não pode ser feita como uma espécie de solução final. Como falei, sob o comando da parelha Lacerda-Sandra foi o Rio da Guarda. Depois vieram as casas populares e os conjuntos habitacionais construídos em " Deus me livre ", com a transferência de famílias inteiras - à maneira de u reich chinfrim - para essas terras distantes. Ora, até o Eremildo do Élio Gaspari sabe que medidas como essa só poderiam resultar no recrudescimento da favelização e ocupação dos espaços públicos.
Em tempos mais modernos, vieram a creolina, o álcool e os inqueiros do César Maia, o Bufão. À noite, bem ao jeitinho SS de ser, a Guarda Municipal alagava as calçadas e incenerava os trapos largados para trás, obrigando os mendigos a irem dormir na praia, mas sem o charme e o encanto da canção do velho Caymmi.
A Soluçaõ Final é medida para os que têm pressa, essa inimiga da perfeiçao. O amor ao Rio não comporta esse ódio corrosivo pelos moradores de rua, ódio esse travestido de assistencialismo barato.
Basta! A Guanabara não é um imenso Auschwitz e eu não posso ser o alemãozinho que não sabia de nada.