O NÔMADE

O nômade

Desvendar o misticismo, descendo pelas estradas escuras de uma noite sem luar, ouvindo os grilos desafinados

Adentrando pelo mundo do sonho que nos leva á uma cabana colorida de ciganos,

Ali nesse momento reina o silencio... Entre as pessoas presentes, porém o choro e o grito de mulher invadem não só a cabana, as pessoas

, mas a quilômetro de distancia podia-se ouvir seu grito e o seu choro de sofrimento e de dor.

Catarine não tinha mais forças nem pra gritar, nem pra empurrar pra fora de si o ventre pulsante... Algo estranho acontecia.

Seria já mais de dois dias de sofrimento, começará na sexta-feira de noite sem luar, noite de negrume e amedrontada, Catarine

Então sentia as primeiras dores do parto anormal, feito dentro da cabana, com uma velha parteira, e seus panos, suas mãos habituadas

A expulsar pra fora as criançinhas nascidas nessa redondeza da mata. Era dona” nega” como todos a conhecia, já com o rosto envelhecido e também sofrido, mãos calejadas, o velho lenço colorido e transparente envolto na cabeça branca feito algodão.

Catarine já não tinha mais forças, o marido por ordens de dona nega,

O segurava por debaixo dos braços, apoiando para que Catarine ficasse de pé sobre a cama,

E a parteira fazendo toda sua força possível ao auxilio da pobre mulher desfalecida,

O suor em bicas abundantes caia pelo corpo também desfalecido.

Existia no ar do quarto escuro um vento de morte e de fim de esperanças...

O pobre marido perdia sua timidez e começava á blasfemar contra deus e seus mistérios,

Ofendia com palavras grotescas aos santos enfileirados na parede amarelada... Suava, chorava e blasfemava.

Nesse percurso de tempo, o Sr.olimpio ao sair de casa, olhou os santos pendurados na parede,

O olhar fixou profundo na imagem de Santa, bárbara e ali no silencio do amor incondicional,

Fez sua “promessa: minha doce e amada santa á ti deposito minha confiança,

“Não quero estar indo velar minha filha, mas ao chegar, ver nascer uma vida...”

Sr. Olimpio foi chamado às pressas, porque sua filha há dois dias sofria as dores mais fortes do parto,

Mas não havia nascido à criança, olhou a santa, montou na mulinha trotona e partiu rumo a cabana dos ciganos.

--- que triste desventura de sua amada filha, seria uma amaldiçôo?Porque tanto blasfemou contra essa união,

Esse casamento maluco com um cigano estranho que aparecera de repente e sua filha apaixonaram-se perdidamente e não adiantou relutar.

Catarine foi à noiva mais linda do lugarejo, casara de vestido vermelho-paixão, com flores vermelhas nas mãos e nos cabelos negros!

Moça linda igual naquele lugar nunca existiu...

Sr. Olimpio pedia perdão, pelo caminho afora, chorava, sofria, como se já ouvisse os gritos da filha sofrendo ,tentando dar á luz ao filho prometido.

Ia conversando com deus e sua santa bárbara, enquanto os trotes da mulinha estremeciam no chão rude.

Nisso Catarine sente um tremor forte no corpo desfalecido,

Uma forte dor vem e ela sente uma pluma branda passar-lhe pelas faces, ouve uma voz num sussurro bem baixinho: ”ele nascerá”!

Era afirmando, porque desliza das suas ancas abertas, enquanto está sendo segura pelos braços pelo marido ensopado de suor,

desliza e nasce saindo arrancado pelas mãos da parteira que explode em gritos, dando ordens á Catarine que não parasse de expulsar do ventre o filho amado.

Minutos de silencio, o que desliza das pernas entreabertas é uma bola, é percebe-se que a criança nascera empelicada, a parteira então,

Ajeitam depressa os acessórios,

os panos molhados e tesoura a velha companheira, dá um pique na pele que envolve a criança e esta aparece, porém desfalecida, seria necessário um medico, uma injeção, pra reanimar o recém-nascido, coisa difícil existir naquelas bandas da mata, um médico, já que o único médico que salva, seria necessário uma dozes horas pra buscá-lo.

Dona nega da às ordens:

---arrume um prato de ágate, uma colher de metal e bata com força nesse prato com a colher, faça bastante barulho bem perto da cabeça

Da criança, e assim foi feito.

Um choro de anjo bem forte foi ouvindo La de longe, o choro que brotara dos ruídos e barulhos do prato de ágate sendo descascado pela colher pelas mãos aflitas masculinas, esse choro foi ouvindo por Sr. Olimpio que estava no enorme terreno de chão avermelhado, com

A mulinha velha á suspirar pelas ventas o cansaço.

--- deus seja louvado! Oh! Minha santa devota deve-te esse milagre!

Sr. Olimpio veio a contar esse milagre a todos da redondeza da mata.mas...

A cabana estava colorida, por entre panos estampados, esvoantes, como se fosse uma dança que alegre anuncia a chegada do mais novo cigano místiço.

---meu amado filho, tu es lindo! Surrara Catarine ainda desfalecida

- o meu filho prometido! E cerra os olhos, indo ao encontro da escuridão, aonde os anjos vêm ampará-la e guiá-la.

Houve então na cabana um ritual gitanos de chegada, de nascenças... De alegria! Houve naquela noite de breu, um ritual fúnebre, um ritual

Onde a cachaça mais ardente, não acalma, e nem alegra,

Nem adormece o coração cigano apaixonado, que perdera Catarine a bela mulher de sangue espanhol, que o conquistara com seus lindos cabelos negros.

Catarine partiu levada pelos anjos.

O menino chegou arrancado das entranhas pelas mãos violentas e sábias da velha parteira “nega”.

A cabana silenciou por longos e tristes dias.

A cachaça amarga era degustada com sofregão, com volúpia

Prá matar a tristeza, prá comemora a chegada da dor, que faz vir á vida: um ser!

O vento sopra, canta acompanhado pelo bandolim do velho gitano.

A canção invade a cabana.

--eu contarei minha historia por longos anos!

--mas quem é você? Pergunta um vendedor ambulante

Eu sou filho da noite- bisonha mistura de raças miscigenadas. E sou forte como fumo - de-corda...

Sou nascido da morte

Que trás na alma o desamparo e o desalento!

Eu sou um homem forte, valente, guerreiro!

Eu sou o nômade!

BARBARA ALMA CIGANA
Enviado por BARBARA ALMA CIGANA em 09/01/2009
Código do texto: T1375456
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