THE WIND BLOWS
 
           
            Todo começo é coisa boa, em geral. É uma palavra boa, encerra em si uma conotação nova, que irá acontecer ser criada, construída, começada.
            Quero analisar, mas o meu temperamento se coloca na frente do filosofar e analisar e indica que começo está ligado a coisa do bem, coisa querida de querer, desejada ou sonhada. Mas ainda, em verdade, não comecei nada. Só continuei que, aliás, é normal. Em ano novo há algo subliminar, um subterfúgio sussurrar de raízes em plano horizontal se espalhando e entranhando em todo o ser, induzindo a começar, um começo, comemorar ou realizar.
            Nada fiz ainda nem tenho projeto, mas cutucando no fundo da razão me perseguiram no dia todo tais cismares. Inquietude. Incompletude. Coisa vaga, indefinida... Dá um desconforto! Atrás da nuca ta batendo algo a querer ter voz própria e dizer.
            Só sinto...
            Comecei a ler, larguei.
            Comecei a escrever, interrompi.
            Comecei a bordar, parei.
            Liguei o Recanto e li os textos dos outros, percebi a mesma inquietação, como escritos incompletos, não me disseram muito, nada de extraordinário vi. Comentei pouco também. Tão imotivada que bateu sono e fui dormir. De dia. Ando diferente.
            Tenho sempre ao meu alcance o papel, a caneta, o livro, a agulha, a linha, o pano, e uma palavra cruzada. Nada busquei, era outra coisa, Não sei.
            Em geral eu me contento com pequenas coisas, como o broto novo que apareceu já bem forte no pé da orquídea que venho cuidando e que pensei que iria morrer, mas não, surpreendeu-me com este broto nascido mais do que forte, bom verdadeiro parecendo que vai tomar a frente de toda a planta.
Isto é para me bastar ser feliz no dia. Só gostei. Não me preencheu a alma. Penso, agora aqui, que eu mais queria é crescer e transformar feito a planta. Mas não to começando nada.
Fui ouvir Freddie Mercury e ali acompanhei toda a melodia cantarolando como instrumental, soltando a voz do fundo da garganta, ou suavizando, melodiando como fundo, guitarrando... Foi bom. É lindo.
            Ele termina assim “Anyway the wind blows”... 
O som “eniuei-di-uind-blôwe”... “de qualquer modo o vento sopra...”  
    Envolta no canto e no som tão lindo, a sala pareceu mudada...  
Encanto... Por que tudo está tão quieto e bom?
            O Vento Sopra... O vento