DESTINO, ACASO E ESCOLHA

Se existisse destino, não haveria livre arbitrio. A Bíblia diz: "Que ninguém se engane, aquilo que o homem plantar, isto colherá". E um ditado popular diz: "Quem planta ventania colhe tempestade".

Suponhamos que um determinado indivíduo saísse a dirigir bêbado à noite e batesse o carro, matando alguém no outro veículo. Então fosse para cadeia e, tendo muito tempo para refletir, pensasse em como teria sido se não tivesse saído a dirigir alcoolizado. Do ponto de vista dele mesmo, poderia pensar que teria ficado em casa descansando em seu sofá macio e quente em frente à TV. Outro pensamento, porém, poderia lhe sugerir que a torre de celular que há ao lado de sua casa poderia ter ruído e o matado dentro de casa, sugerindo que a fatalidade pode estar em qualquer lugar.

Entretanto, analisando fora da visão desse indivíduo, se ele não tivesse saído a dirigir alcoolizado, qual teria sido mesmo seu destino? Teria ficado no calor do sofá, despertando bem no dia seguinte; teria morrido esmagado pela torre de transmissão de celular por causa de um repentino vendaval que se abateu sobre aquela região, ou teria ido para a cadeia? Seria possível que fosse preso se tivesse escolhido qualquer uma das duas hipóteses anteriores?

Pode ser que sim, pode ser que não, dependendo sempre do que ele viesse a fazer na continuação. Fato é, que um milhão de coisas diferentes poderiam ter acontecido. Muitas delas se apresentariam como alternativas, caminhos diferentes a serem escolhidos, e muitas outras dependeriam da alternativa escolhida.

Quanto à pessoa que morreu no acidente, porém, até que ponto ela pode escolher o resultado final de sua vida? Sim, ela teve chance de escolher, mas somente até o ponto que resolveu sair de casa andando pelo trânsito, ainda mais a noite, quando a visibilidade é pior e há mais bêbados ao volante. Então essa pessoa é culpada do que lhe aconteceu? Certamente que não. Mas sempre estamos nos pondo em risco, em riscos mais prováveis, em riscos prováveis e em riscos menos prováveis. Mesmo assim essa pessoa não é culpada, pois, embora os riscos e a escolha que fez, quando não somos agentes dos riscos as probabilidades reduzem-se, ficando apenas por conta de forças maiores que as nossas, como é o caso da vontade alheia, ainda mais quando ela nos recai sem aviso.

Graças a Deus nem sempre somos atingidos pelos riscos alheios à nossa vontade e muito disso depende de nossas escolhas. Podemos escolher, mas não somos somente nós que fazemos escolhas. Todos escolhemos e as escolhas de uns afetam os outros. Se Deus fosse destinar alguém, sendo que Ele sabe tudo, conhece o passado, o presente e o futuro, programaria todos, as escolhas de cada indivíduo para não haver coincidências trágicas. Mas daí nossas escolhas não seriam escolhas. Assim não seríamos livres.

Wilson do Amaral