Caderninho de desanotações

A minha memória é uma merda. E como se isso não bastasse, eu sofro de um mal: se eu me sentar pra escrever sem ter pensando em nada, esperando ter a idéia na hora, não sai nada. Fica uma merda. Não é questão de inspiração não que isso é viadagem de escritor carente pra pegar mulher. É questão de azar mesmo. Geralmente as idéias me vêm nos lugares mais impróprios: no ônibus, andando na rua, no banho, fazendo #^&$#@$, no meio de uma reunião ou nem elevador.

E eu não mantenho o hábito de levar junto comigo um bloco ou algo para anotar. Não mantinha, porque agora eu ando. Mas eu não andava porque invariavelmente eu ia perder o bloco ou a caneta, ou ter uma idéia na chuva. Mas agora que eu comprei eu vi que nada disso aconteceu.

Os problemas foram outros. Como bom escritor, comprei um Moleskine. Um bloquinho fodão, de couro, cheio de sacanagem. E fiquei com pena de usar. Tenho o bloco há dois meses e nunca usei. Passei a andar com papeizinhos avulsos pra não ter que usar o bloquinho. Tão bonito ele, pô, capa de couro, elástico… E fora isso, aconteceu uma coisa que eu já devia ter previsto: eu anoto uma idéia, no ônibus ou ne reunião e depois não faço a mínima idéia do que eu estava pensando na hora, muito menos do que eu queria dizer com aquilo. Na hora da pressa eu escrevo com palavras chaves. Uso palavras soltas, ditos populares ou frases pequenas. E depois, nas poucas vezes que eu consigo entender a minha própria letra, não faço a menor idéia do que eu quis dizer.

Então resolvi abandoar essa idéia e poupar meu bloquinho do medo de uma iminente página arrancada ou de ter suas alvas folhas maculadas por uma caneta malvada. E em uma semana perdi pelo menos umas cinco idéias. Era hora de pensar em algo mais eficaz. Foi quando, em um rompante, tive duas idéias seguidas: uma pra um texto e outra de como me lembrar das idéias: mandar uma mensagem de celular de mim pra mim mesmo! Genial! Por apenas sete centavos eu não perderia minhas idéias no caminho e não precisaria tirar a virgindade do meu bloquinho! Fantástico! Na primeira idéia deu certo! Na segunda também! Mas na terceira, acabei de chegar no trabalho e não faço idéia do que eu quis dizer com “mulher perfeita. Olhos. Bunda. Pedido. O que queria ser quando crescer. Felicidade. Arte x publicidade”. Se isso era um texto só eu devo ter fumado alguma coisa antes de sair de casa. Mas de qualquer maneira, tô começando a ficar com medo de ficar sozinho comigo mesmo. Da próxima vez acho que meu bloquinho vai ter que deixar sua virgindade de lado. Mas fica tranquilo, amigão, eu juro que só boto a pontinha da caneta.