Exclusão digital? Quem me dera...
Ontem comprei uma agenda. É, agenda mesmo. Não, não foi um palmtop, nem uma agenda eletrônica (isso ainda existe??) nem um cartão de memória de milhões de gigas pro meu novo celular que manda e-mail, compra ingressos pro teatro, me lembra compromissos, faz um café que é uma loucura e ainda busca as crianças na escola. É uma agendinha pequenininha, daquelas de anotar telefones e tal. É que meu celular ta meio epilético, e tem uns espasmos de vez em quando, e eu tava com receio de ele morrer de vez e eu ficar sem telefones. Eu tenho tudo no computador, mas eu prefiro prevenir. Meu computador é meio temperamental. Aliás, acho que ficou clara minha falta de afinidade com essas coisas muderninhas. Só acompanhei a tecnologia de perto até os mini-games no início dos anos noventa e o jogo Carmen San Diego. De lá pra cá descambou. Tecnologia 10, Léo 0. Mas como eu dizia da agenda, o que mais me impressionou foi a cara de espanto das pessoas. O que você ta fazendo? Bom, anotando telefones na minha agenda... Ah tá, pra passar pro computador depois? Não, pra ficar na agenda. É cada maluco que me aparece... Cá entre nós, eu confio muito mais na minha capacidade de não perder uma agenda – que é quase nenhuma – do que no meu celular e no computador.
Ultimamente tenho tentado boicotar sem sucesso essas coisas. Fico o dia todo sem ver e-mails, desligo o celular e nem ligo o computador. Mas não adianta: no fim do dia, minha caixa de mensagens tem quinhentos e-mails e o mundo todo já ligou pra minha casa pra saber se eu fui abduzido pra marte, por que lá deve ser o único lugar do universo que não pega celular nenhum. E mesmo assim por pouco tempo, do jeito que as coisas vão. Sinceramente, pessoal: se meu computador explodir hoje, o que eu vou sentir mais faltas são minhas músicas, as pornografias e meus textos. O resto é substituível. Mas e se, por exemplo, seu computador morre hoje? Você tem um troço, certo? Então! Me recuso a deixar isso acontecer comigo! Prefiro morrer se meus livros queimarem, se minha namorada me deixar ou se cortarem minha assinatura promocional do Playboy TV. O que eu mais faço no computador é escrever, jogar e ver babaquices na Internet. Ah, e trabalhar, de vez em quando. E pra mim isso já mais do que o suficiente.
Ah, mas quem me dera conseguir o boicote completo... sem celular, computador nem e-mail. Só eu, meus livros e o Playboy TV. Sem msn, sem ler dezoito jornais por dia na Internet nem mensagens de textos da operadora informando as últimas promoções que você nunca participa mas que não pode perder a próxima. Sem notícias de primeira mão de desgraças do outro lado do mundo, sem se preocupar em responder e-mails em horário comercial nem em ficar olhando pra ver alguém comentou seu texto no blogue. Só eu, uma coca-cola e minha namorada. Ou, em noite solitárias, só eu, a mesma coca-cola e o Playboy TV. Eu daria meu braço direito por isso. Pensando bem, o direito não, o esquerdo. Pelo menos não enquanto eu ainda tivesse o Playboy TV...