VILA RICA
 
 
 
         Ali no final da Rua da Glória, com a Igrejinha do Outeiro da Glória ao fundo, escurecida com esse tempo nublado e molhado, numa esquina circular, de calçada ampla fica um bar restaurante “Vila Rica”, que tem a sua parte interior com ar condicionado e decoração aportuguesada, com portas para as duas ruas da esquina, uma delícia de lugar pra mim.       
            Dia útil início de mês é hora de fazer muitas coisas, pagamentos, e quando termino tudo, dou uma esticada lá. Um ambiente agradável e bem atendida. Primeiro um cafezinho com pão-na-chapa, gostoso, e um descanso. Que sair com esta chuvinha e todo mundo se encontrando e se desviando não é nada fácil. Bolinhos de bacalhau e água de coco geladinha pra completar e paz interior, enquanto observo os transeuntes lá fora e o tempo.
            Alguns lugares do Rio são assim, parece que a gente está em casa.
            Fiquei ali pensando em nada, exceto que estavam ótimos os bolinhos e a água de coco no canudinho. Apreciando o carioca lá fora, gentes diversas em todas as direções com seus guardas chuvas e sombrinhas, um agito sempre.     
            O dono é um senhor português, educado, e os garçons ágeis e atenciosos. Fregueses de todo tipo, quase sempre ali está cheio, mas sempre tem alguma mesinha sobrando ali perto do balcão. As mesas dispõem de uma barricazinha de torneirinha de vinho tinto fixada em cada mesa. O próprio freguês se serve em canecas.
             Uma porta de vai-e-vem comunica com o balcão e uma área fora do balcão onde tem duas ou três mesinhas onde é o meu lugar preferido, por que fico vendo o movimento lá fora enquanto descanso.
            Gosto de observar o povo que passa.
            Gosto do Rio que é bonito até de céu fechado. Sinto-me em casa. Meus filhos são cariocas. Eu, mineira. Mas estou aqui desde a época de faculdade.  Meus filhos falam que ainda falo mineiramente. Quê? Como não percebo diferença entre nossa fala? Acostumei-me tanto com o Rio que me sinto igual. Mas eles explicam como falam diferentes. Meu ouvido não percebe mais. Eu me orgulho de ser mineira. Falo pastel, eles falam pasxtel. Eu não ouço a diferença porque mais eu sinto a alma carioca e o seu constante humor do que o seu falar pastel com “X”.
 
 
MLuiza Martins