A viagem
...Entre as nuvens de um dia qualquer, eu viajei. Percorro a estrada no ônibus. O tempo da viagem na estrada é o que mais eu gosto. É a estrada em si e o que vejo antes do destino. Eu sentada na primeira poltrona ao lado do motorista próxima a pessoas comuns...
Olhando minhas carnaúbas, minha gente simples, pessoas a luz do sol, crianças, velhos, o garoto subindo na bicicleta, a rua vazia, o jumento trabalhando em troco de nada, as nuvens voando, as árvores mortas outras vivas, cactos, ipês.
Tudo me fascina e me sucumbi. Como se eu fosse uma parte daquela gente da estrada, da vida que a cada segundo em meu ônibus deixo para trás...
E isso me faz pensar...
Porque eu não estou lá, porque eu não sou você e porque eu sou eu... Porque eu nasci assim e alguém sempre é diferente de mim? Porque tem gente que tem muito e outros nada... Porque que alguns são abandonados outros nem vida têm... Por que alguns não têm oportunidades. Porque alguns choram enquanto muita gente sorrir?
E me lembro que há coisas que não tem explicação...
O ônibus com muitas pernas cansadas todas em pé. Cabeças e destinos diferentes, almas diferentes. Sempre vejo gente ao meu lado, gente que não conheço, entre uma e outra olhada, não falou. Só falamos com alguém quando precisamos.
...A mulher entra no ônibus com a criança no colo, preocupada onde sentar, pois não havia lugar para se acomodar e ainda mais com a criança no colo.
Olhamo-nos e estava decidido, eu tinha que segurar a criança para ela, tratar de sua cria como se fosse a própria mãe, levá-la ao seu destino sã e salva. E assim ela a entregou a mim. Não houve palavras entre nós, apenas olhares e gestos da mãe desconfiada, a olhar seu filho.
A criança sentada em meu colo, calada e segura com o olhar fixo no horizonte. Olhando minhas carnaúbas, minha gente simples, pessoas a luz do sol, crianças, velhos, o garoto subindo na bicicleta, a rua vazia, o jumento trabalhando em troco de nada, as nuvens voando, as árvores mortas outras vivas, cactos, Ipês rosa.
E isso a faz pensar...