Ai de ti, Guanabara!
Se não me engano, foi em seu 18 Brumário que Marx afirmara que a história só se repete como tragédia ou como farsa. Dessa forma, o barbudo de frankfurt resumia o golpe de Napoleão que o tornava imperador da França. Confesso não estar bem certo quanto à fonte, mas de qualquer forma ela não invalida o que eu quero dizer como uma tosca analogia trazida para cá.
O sr. Eduardo Paes - sucessor de César Maia, sendo este o sucessor de si mesmo - , assumiu a prefeitura do Rio prometendo repaginar o cenário carioca tão maltratado nos últimos tempos. Entre as medidas anunciadas, e que certamente receberá a benção da classe média - mormente na Zona Sul e Barra da Tijuca -, está a que proíbe os mendigos de dormirem na rua, incluindo as areias das praias. Segundo o sr. Paes - essa espécie de mix de Carlos Lacerda e Sandra Cavalcanti -, aqueles que declinarem do aconchego dos abrigos da prefeitura (???), estarão obrigados a ficar circulando pela cidade. No " circulando" do bisonho alcaide é cintilante o jargão policial empregado pelas autoridades quando se referem aos moradores de rua.
Seria cômico se não fosse sério, imaginar uma avalanche de mendigos caminhando pelo calçadão de Copacabana como peripatéticos atenienses futuristas. Em pouco tempo seriam apenas zumbis zanzando até caírem mortos de exaustão.
Mas o que se vê, na verdade, é uma tentativa de reinventar a flauta mágica de Lacerda e Sandra, tocando o rebanho em direção ao rio Guandu, numa versão grotesca da marcha dos lemingues para o mar.
Quanto aos propalados abrigos, estes não passam de depósitos de tralhas em forma de gente. Chega de cinismo!
Nesse choque de ordem pública, ninguém falou em recolher os mendigos dos subúrbios. Pelo contrário, estes recolherão as legiões que serão enxotadas como moscas da Tijuca, Centro, Zona Su e Barra. E aí, vista saneada, os turistas, as dondocas de mente vazia com seus cães que fazem cocô nas calçadas e os senhores desocupados e com grana no bolso, exaltarão aquele que, ainda em início de mandato, já faz propaganda para sua reeleição. Ai de ti, Guanabara!