RETRATO CULTURAL DO BRASIL
No meu artigo “Coisa mais linda”, escrito em agosto de 2008, faço um relato sobre um excelente documentário sobre a bossa nova, que leva o mesmo nome do artigo em questão.
O documentário tem a co-produção de Carlos Lyra e Roberto Menescal, dois baluartes da bossa nova e foi apresentado por emissoras de tevê a cabo e via satélite. É uma produção cinematográfica da melhor qualidade, mas que não tem fôlego para ser apresentada no circuito de tevê aberta, pois é o típico programa que daria audiência mínima. Não pela qualidade da produção que, como já disse, é ótima, mas pelo nível cultural que grassa neste país.
No referido artigo cheguei a tecer um comentário que reproduzo aqui: “Ainda procurei o filme em vários lugares, uma vez que agora já sabia o seu nome completo: COISA MAIS LINDA – HISTÓRIA E CASOS DA BOSSA NOVA. Os vendedores “especializados” das “casas especializadas” sequer tinham ouvido falar do documentário ou mesmo do que veio a ser a bossa nova. Uma pobreza geral em relação à nossa cultura, cada vez mais esquecida e abandonada”.
Lendo a edição do jornal “O Globo” de domingo, 4 de janeiro de 2009, me deparo com a seguinte matéria publicada na coluna de Ancelmo Gois, sobre um fato ocorrido com Carlos Lyra em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro, e que reproduzo a seguir:
“A cena aconteceu com o compositor Carlos Lyra. Chegando do Japão, foi à Livraria Renovar, em Ipanema.
Lá, o mestre da bossa nova abordou um vendedor:
— Vocês têm “Os possessos” de Dostoievski?
— “O processo?”
— Não. “O processo” é de Kafka.
O vendedor consultou o computador.
— Não temos, não.
Lyra resolveu esticar a conversa:
— Vocês têm “Os Sertões”, de Euclides da Cunha?
— “Sertões?”
— É uma obra brasileira importante.
Nova ida ao computador.
— Está fora de estoque.
Lyra encrencou:
— Mas a obra toda de Paulo Coelho vocês têm, não é?
— Temos sim, qual o livro que o senhor quer?
— Nenhum.
Nada contra o mago”.
E não tenho mesmo nada contra Paulo Coelho, apesar de não ser leitor de suas obras, mas é triste constatar essa verdade. Mais triste ainda é ter a certeza de que essa pobreza cultural não acontece somente na literatura, mas, também, na música, nas artes, na política e na própria história deste pobre e “desletrado” país chamado Brasil.
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