Flora - ou - onde está o DVD?

Sou noveleira, quer dizer, gosto de assistir novelas da tv. E aquela que está em cartaz, por terminar, tem me prendido a atenção. Como milhares de expectadores brasileiros, fico estarrecida com tanta capacidade de malvadeza e esperteza da personagem Flora. Centrada em seu objetivo principal, sem dó nem piedade, ela vai eliminando quem percebe suas intenções e pode lhe barrar o caminho. Posando de boazinha, engana todo mundo, salvo um pequeno grupo de pessoas que consegue enxergá-la como ela é. E ninguém acredita neles, é claro!

No decorrer desses meses, até então, eu pensava ser apenas fantasia do autor. Personagens malvados são fortes, ficam na memória do povo. Autores e atores gostam. Mas hoje - só hoje – me dei conta: “A Favorita” é uma parábola do Brasil atual!

Os primeiros indícios me foram dados pelo personagem Romildo Rosa. Político corrupto, acaba se entregando à Justiça por pressão dos filhos e arrependimento, não porque a Justiça tenha ido atrás dele... A ex-bicho grilo, depois guerrilheira Rosana, de cognome Diva Palhares, traficou armas em nome “da causa”. Foi enganada pelo companheiro, que por “causa” entendia “causa própria”...

Flora faz e acontece, sempre auxiliada pelo mordomo escravizado. Quando, por acaso, deixa alguma pista, o “aloprado” cúmplice Dodi corre para desfazê-la. E se jornalistas “xeretas” cruzarem seu caminho, ameaça-os ou mata mesmo. E as provas nunca aparecem, a mais contundente gravada num DVD. Quando pensamos que vão aparecer, mãos de outros aloprados somem com elas...

A partir do momento em que o bem sucedido, justo e politicamente correto empresário Gonçalo passa a acreditar na inocência de Flora, abre para ela as portas de sua fábrica.

Não percebe que daí em diante ficará para sempre em suas mãos...

Percebi também que além da megalomania da personagem principal, o autor acrescenta-lhe o sentimento exacerbado de inveja. Flora “quer ser” Donatella, sua irmã adotiva. Ambas foram criadas no mesmo lar, tendendo, porém, para direções opostas: uma do lado do Bem e a outra, do Mal.

Durante o desenrolar da história, fiquei intrigada com a exagerada ingenuidade de dona Irene, esposa do empresário. Como é que uma senhora madura, experiente e culta podia ser enganada com tanta facilidade?... É que a malvada sabe muitíssimo bem representar seu papel de boazinha, sempre por perto, zelosa de seu bem-estar...E a bondosa avó é crédula, cai como um patinho, exatamente como o povo brasileiro.

Agora Irene descobriu a terrível verdade, mas a história ainda não chegou ao final.

Como se dará?

Alguém vai aparecer com o DVD?...