Roubo de galinha
Mais uma da sessão pastelão do país da justiça que tarda e ainda falha, quando convém. Um homem é mantido preso em SP ao ser preso em flagrante pelo roubo de oitenta centavos de real (R$ 0,80). Noticia boa, diria excelente. Precisamos dar o exemplo, afinal não existe crime nem injustiça no país. Um país onde pobre mora em mansão, não há crimes, nem desigualdades sociais e governos excelentes incorruptíveis.
Poderão dizer que precisamos começar por algum lugar.
Essa nota é antiga, uso-a apenas para ilustrar o que vem a seguir.
Neste país sem lei, andar com oitenta centavos no bolso já é arriscado, imagina andar com os míseros trocados do soldo mensal, e as pessoas eram obrigadas a abrirem uma conta onde à empresa determinar. João, vamos chamar assim o cidadão cinquentão que bateu a minha porta a procura de um trabalho, tempos atrás. Pedi uma limpeza no meu pátio para tirar uns entulhos, restos de construção e uma limpeza na caixa d’água.
Conversa vai, conversa vem, ele disse que tinha sido demitido há quase dois anos, e não conseguira mais emprego devido à idade, e desde então vivia de fazer “bicos”. Uns meses atrás, prestara serviço para um “figuraça” , como ele me disse, cheio da grana e depositou um cheque na conta, ainda aberta desde os tempos de empregado, e para sua surpresa o cheque deste figura era voador. Deste ponto começa a maior dor de cabeça do nosso amigo João. Ciente de que tinha fundo, comprou um botijão de gás, R$ 34, 00 (Trinta e quatro reais), e deu um cheque, já que seu banco manda talões com 20 folhas, e ele praticamente não usava.
Não deu outra o cheque voltou. Precisou pagar uma taxa de R$ 0,50 pelo baixo valor da folha, além é claro da multa de R$ 14,00, pelo estorno, isso duas vezes. Não obstante os R$ 21,00 mensais para manutenção da conta, mais CPMF, na época, e os R$ 28,00, das duas multas, foi necessário mais R$ 28,00 para tirar o nome do Banco Central, e depois mais R$ 10,00 para poder tirar um novo talão.
Calculou?
O que é mais perigoso, andar com dinheiro no bolso ou confiá-lo à um banco?