O DESAFIO DAS TECNOLOGIAS LIMPAS
Shimizu. Penso que se escreva assim... pois, embora tenha aprendido muita coisa com meus amigos descendentes de nipônicos na infância e adolescência, falar ou escrever em japonês nunca foi o meu forte.
O homem lutou por 20 anos para dizer ao mundo da tecnologia, que era possível criar um automóvel competitivo e não poluente. Um automóvel que superasse os motores a combustão, que não poluísse e fosse acessível às pessoas. Quem é ele? Um professor universitário da área de engenharia.
Ocorreu, porém, um fato incrível na história desse professor. Durante muitos anos tentou projetar ou fabricar um motor elétrico que pudesse impulsionar um automóvel com segurança e economia. Os modelos antes inventados foram abandonados porque a carga utilizada para o abastecer o sistema elétrico e o motor descarregavam rapidamente.
Foi aí que Hiroshi Shimizu teve a idéia de implantar um motor na própria roda, o que diminuiria o impacto de um grande motor e condicionaria ao sistema uma tecnologia aperfeiçoada pelos japoneses (e que abastece os trens-bala): os inversores.
Após projetar uma bicicleta elétrica com tais fundamentos, descobriu que em 1900 um alemão chamado Ferdinand Porsche havia inventado o automóvel elétrico e o sistema de motores em rodas.
É importante mencionar tal fato porque, embora a idéia e o projeto de Porsche significassem um avanço na história da humanidade no desenvolvimento de uma tecnologia limpa e sem agressões ao meio ambiente, os motores a combustão venceram a batalha quando o americano Henry Ford desenvolveu um modelo de produção em massa colocando o motor a combustão – mais simples e potente – a frente do mercado.
Ou seja, a humanidade preferiu um veículo que lhe possibilitasse força e velocidade ainda que poluísse o ar com gases tóxicos e ruídos de motor; um equipamento que passou a condicionar milhares de pessoas na opressão do sistema mecanicista, do trabalho em massa, uniforme, seqüencial e alienado. Ford enterrou de vez a idéia do artesão.
Porsche abandonou a idéia do carro elétrico, que podia, naquela época, se movimentar numa distância de 50 km a uma velocidade de 50 km/h, pelo motor a combustão. Engoliu a seco a derrota de sua idéia, mas em pouco tempo superou todos os fabricantes e dominou o mercado automobilístico. Ainda que seus carros tenham se tornado imbatíveis um século mais tarde, Porsche foi relegado ao esquecimento pela História – a mesma que colocou Ford num altar.
O que fez nosso professor japonês? Buscou na iniciativa de Porsche uma impulsão para criar um automóvel que superasse a potência do motor a combustão a gasolina.
Criou, em parceria com sua equipe, o Elica (Eletric Lithium-Ion) - um automóvel que, superando as análises e as fórmulas da física e da matemática, pôde alcançar, numa pista de corridas de Fórmula 1 na Itália, a velocidade de 370 km/h com um motor elétrico de 800 cavalos, acelerando de 0 a 100 em 4 segundos, sem poluir o ar com ruídos e gases tóxicos.
Após visitar a China em 2004, Hiroshi Shimizu vislumbrou a tecnologia chinesa na criação de baterias em lítio em larga escala, o que diminuiria os gastos dos automóveis que utilizam a tecnologia do inversor elétrico; assim, o que Ford houvera paralisado à época, a China devolveu com a fabricação em massa das baterias em lítio.
Em 2005 a Mitsubishi Motors testou o Elica, colaborando na tentativa de melhorar o projeto para que, num futuro próximo, seja utilizado nas ruas e substitua os velhos motores a combustão, poluentes e barulhentos, por tecnologia limpa.
UMA ALTERNATIVA CRUCIAL
O que esperar de povos que há mais de 5 mil anos vêm desenvolvendo um método de vida com sabedoria e disciplina?
Não são perfeitos, claro, pois ninguém o é. Os japoneses ainda contribuem para grande matança de baleias e mantêm uma política de controle duríssima em relação aos estrangeiros. Os chineses, que soterraram milhares de anos com a Barragem das Três Gargantas, não abrem mão de seu sistema político retrógrado e violento, além de resistirem à tendência global de mercado livre.
Mas, esses povos desafiam a história e o mundo ocidental ao proporem mudanças com relativa segurança tecnológica.
Os chineses criaram, p. ex., uma tecnologia que aproveita os gases emitidos pelas fezes humanas e de porcos para geração de energia elétrica (na mesma linha de alguns projetos brasileiros na linha dos biodigestores); e os japoneses, um sistema de recirculação das águas de um edifício para mais de um aproveitamento.
Todos lembram os feitos das fábricas automobilísticas japonesas em relação às americanas na década de 1980, bem como o que vem realizando ultimamente a China (lançamento de satélites, astronautas em órbita, mercado competitivo - ainda que viabilizado pela mão-de-obra barata, o que condeno com veemência-, tecnologia de ponta em vários segmentos).
Já nós, brasileiros, temos uma alternativa crucial: ou ficamos a olhar de braços cruzados o movimento da história (que não permite “se”) e seremos esmagados; ou enfrentamos (no sentido de compreender e participar) tigres e dragões numa cooperação cultural e econômica que nos levará a uma possível nova civilização.
China e Japão ainda são deficientes em muitos segmentos. Podemos aprender com eles, mas podemos ensinar-lhes também.
Em última análise, uma ciência que se prevaleça sobre os mais fracos e sirva a poucos interesses nada mais é que o aprimoramento de técnicas opressivas da liberdade. O que propomos é a utilização de uma ciência universal, que eleve o nível de vida da população e que aponte caminhos.