Fogos na areia
2009 começou há pouco mais de 24 horas, e honestamente, está tudo do mesmo jeito como era. Mas eu já sabia antes de a mesa estar posta com os mesmos pratos kitsch e saborosos de sempre.
Será que pensar assim me revela um mal-humorado*? Um trintão deprê? Um sarcástico inveterado? Um chato? Talvez todas as anteriores.
O fato é que durante os últimos suspiros de 2008, recebi o mesmo convite do funeral de 2007 e dos anos anteriores, de uma década para cá: "Vamos ver os fogos?".
Os fogos...Tinha esquecido isso.
Seguir convenções e compor as massas sem qualquer questionamento é uma característica do ser humano, é confortável e social, e durante a guerra travada entre as espécies pela sobrevivência deve ter nos protegido e nos tornado mais aptos a viver em sociedade.
São 365 dias e 6 horas, aproximadamente, diferenciados uns dos outros como numerais arábicos consecutivos, com o marco zero no denominado nascimento de Jesus Cristo, e cada pessoa que conheço é capaz de organizar sua memória e sua história, em gavetas com etiquetas de identificação frontal onde se lêem os anos dos fatos nelas contidos.
Por que 2008 deve terminar como 2007? Que por sua vez terminou como 2006, e assim sucessivamente. Quem inventou isso?
Acho que uma tradição está criada, e não consigo me lembrar exatamente quando se tornou um dever simpático assistir à queima de fogos.
Não sou contra, até favorável, o samba no volume máximo, as vestes brancas, o lombo com frutas, e principalmente os exageros etílicos permitidos na noite de réveillon, mas este ano não fui ver os fogos, declinei o convite um tanto quanto embaraçado e fiquei onde estava, e tudo me pareceu ótimo.
Comecei o ano de maneira diferente, e não me refiro à alva, eufórica e perfumada manada, mas aos anos anteriores. 2008 mereceu.
*Esse hífen contínua firme e forte no ano que vem pela frente.