O PIPOQUEIRO...

 

     Lembro-me de alguns pedaços da minha infância. Aos domingos depois da missa das oito meu pai sempre me dava algum dinheiro para que eu pudesse ir a sessão das dez. Era a chamada matinê infantil.

    Adorava pois assistia uns filmes bem interessantes, além de uma vasta série de desenhos animados. Entretanto, hoje eu entendo que aquele programa que gostava tanto não seria completo se antes de entrar no cinema propriamente dito eu não parasse em frente a uma carrocinha de pipocas, que ficava estrategicamente estacionada bem em frente a entrada .

    Lembro-me com saudade daquela carrocinha ! Duas enormes rodas aproveitadas de uma bicicleta velha, vidros embaçados mas que não escondiam a beleza das pipocas saltitando numa panela de alumínio velha e aquele era um espetáculo magnífico, de dar água na boca, ao ver esparramadas num pequeno espaço, separadas por uma tira de papelão com enfeites prateados, as pipocas salgadas e as pipocas doces.

  Sempre preferi as pipocas doces, que tinham um sabor delicioso de açúcar queimado ou coisa assim, mas que eram uma delicia ! Para instigar a imaginação, aumentar a tentação e atingir o ponto fraco das crianças, o pipoqueiro tinha amarrado no topo da sua carrocinha um pedaço de ferro, que de vez em quando batia com uma pequena vara, também de ferro e que fazia um barulho característico e conhecido de todos que ali estavam aos domingos, com chuva ou com sol.

   O pipoqueiro era uma figura tão fantástica quanto as suas próprias pipocas. Sempre contava histórias para as crianças que se aproximavam, que de tão distraídas e fascinadas pelo discurso do velho amigo pipoqueiro, iam comendo as pipocas com os olhos arregalados, sem ao menos perceber se eram realmente pipocas que estavam engolindo.

   Aquele pipoqueiro, velho amigo contador de histórias, foi sem dúvida o homem mais alto e mais magro que já tinha conhecido. Não sei se porque era criança mas aquele homem era incrivelmente alto.

   Não me lembro do seu nome, mas interessante, sou capaz de sentir novamente o sabor daquelas pipocas deliciosas.

   Abrindo o baú das minhas lembranças procurei observar ao meu redor, no dia a dia, se encontrava novos pipoqueiros e pipocas iguais aos da minha infância. Pipoqueiros até encontrei, mas muito diferentes daquele amigo de outra época.

   Primeiro, nenhum deles era tão alto e magro quanto o meu velho conhecido. Segundo, hoje em dia é possível encontrar de tudo num simples saquinho de pipocas. Quando é que naqueles tempos eu poderia imaginar que um dia alguém venderia pipocas misturadas com pedaços de bacon ou queijo ralado e encharcadas de leite condensado.

   Francamente, isso não é comer pipoca. Relembrando meu velho amigo contando rápidas historinhas antes que chegasse a hora de entrar no cinema, como poderia passar pela cabeça de alguém que um dia seria possível fazer pipocas num micro ondas ?

   Não tenho nada contra os micro ondas. Acho até que eles também são fantásticos ! Mas para fazer pipoca , não. A graça está em esperar com impaciência para ouvir o barulho daquela varinha de ferro batendo com força num toque característico numa pequena barra de ferro instalada no alto da carrocinha. Aí, o que eu eu fazia ?

   Juntava as moedas do cofrinho e corria para comprar um saquinho de pipoca doce. Isso quando não estava na matinê infantil dos domingos pela manhã.

    Gostaria de saber se a profissão de pipoqueiro é regulamentada por algum decreto. Se alguma autoridade já prestou a atenção nestes homens e algumas mulheres que empurram a carrocinha o dia inteiro, o ano inteiro, fazendo a alegria de milhares de crianças e também de adultos. Será que existe algum dia dedicado exclusivamente aos pipoqueiros ?

   Nunca perguntei a um deles o que achava de pipocas no micro ondas. Certamente ele não vai me dar uma resposta muito favorável àquela engenhoca.

   Pipoca que é pipoca tem que ser feita numa carrocinha, por um pipoqueiro especializado e tem que ser salgado ou doce. Só isso !

   Nada de bacon, queijo ralado, leite condensado e até coco ralado. Pra quê isso ? Pra quê misturar o que não precisa ser misturado numa coisa que todo mundo gosta ao natural, salgada ou doce ?

   Tenho uma grande curiosidade de saber quem descobriu ou inventou a pipoca. Posso até apostar que foram os chineses. Ou os árabes. Mas isso não importa. Comer pipoca é muito mais gostoso quando é feita por um pipoqueiro que empurra sua carrocinha pelo bairro, batendo com aquela varinha de metal naquele pedaço do ferro.

  Qualquer criança adora isso. Vai olhar admirada para a carrocinha e com os olhos arregalados vai se perguntar como é que aquelas duas rodas de bicicleta foram parar naquela carrocinha. Enquanto isso, quando escutarem o barulhinho do milho estourando, seus olhinhos vão brilhar de alegria e suas ágeis e pequenas mãozinhas vão pegar um daqueles sacos grandes com a pipoca que tiverem escolhido.

    Vai ser melhor ainda se o pipoqueiro souber contar rápidas historinhas....


 

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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 03/01/2009
Reeditado em 06/02/2013
Código do texto: T1365793
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