Foi numa segunda...

Realmente o relatar de certas historias pode ser um tanto interessante, enquanto outras o contar é um tanto quanto desnecessário. Mas vamos ao ocorrido antes que o amigo ou amiga leitora deixe-nos sozinhos e imersos na solidão!

Enfim, foi numa segunda, era um sol tremendamente brilhante, em um daqueles dias de verão bem comuns em terras tropicais como a nossa. Estava caminhando para praia o nosso bom amigo surfista, pensando em um pensamento inteiramente profundo − creiamos com solidariedade. Estava indo em direção ao mar, tendo ele não sei, talvez uns dezesseis ou vinte e um anos, e bem, deixemos com a nossa leitora o imaginar dele, o sendo quem sabe atlético, ou porquê não franzino e fraquinho como um galinho.

Ia ele com sua costumeira prancha encharcada por parafina, e o que mais se use numa prancha para permiti-la manobrar com maior facilidade.

Também na praia caminhava uma multidão de gentes, mulheres, homens, idosos; bom talvez não tantos assim, porque segunda-feira creio eu, que as pessoas tem sim muito que fazer. Avistava ele o mar, com um semblante impávido como se experimentasse aquela sensação de vitória certa antes da batalha. Correu então, digamos em realidade que andou, adentrou perene no mar tendo a isto os olhares atentos das poucas pessoas, e diga-se de passagem, os donos dos bares ali por perto.

O que ele fez, apesar da sua aparência débil e tola?

Para dizer a verdade, não sei, e em mais verdade ainda, não importa muito.

E sim o quanto àquelas pessoas mudaram os olhares, o franzir, o viver depois de tê-las visto ele, no mar. Em vez de termo-nos atentos com quem sabe, o singrar do surfista pelas ondas, tendo o máximo de coragem e lepidez ao quase voejar nas ondas, observemos as pessoas no assisti-lo.

Elas vibram, elas plangem, elas sentem, elas sorriem. Seus semblantes, alguns outrora exaustos, outros tristes, e mais alguns, ignóbeis a tudo e a todos, mudam e se rejubilam por aquela pequena alegria. Por alguns instantes elas antevêem o carrara tênue da verdadeira felicidade. Elas vivem. Depois tornam a sua habitual existência. Mas já anteviram o que há de se vir.

E é o bastante.

Caridade.