O Verão Chegou...
... trazendo junto queimaduras, alegria e a irreverência tupiniquim ganha mais força, forma e cor de bronze em provocantes tangas coloridas.
O mundo nos conhece pelo Carnaval, futebol e dourado esticado por um período relativamente longo de exposição nas praias que se derramam por mais de 8000 km de litoral, sem contar os rios, as represas, as piscinas e os clubes do interior.
Creio que nosso bom humor e irreverência são fortemente alimentados pela energia que essa época nos traz. Minha tese ganha força ao me deparar com a excelente matéria Chegou o Verão, de Dorrit Hazarim, Revista Piauí 27. Fui logo atraído por uma insólita foto de um casal desfilando no calçadão de Copacabana, estando o homem de paletó de smoking e camisa, com calção e descalço, acompanhado de uma jovem com casaco de pele e maiô da década de 40.
A leitura da matéria tornou-se irresistível. Fomos transportados pelo túnel do tempo ao ano de 1949, manhã de 11 de dezembro, praia de Copacabana aonde um grupo de viaturas da polícia assistia a uma pelada de voleibol travada por jovens trajando paletós e cartolas de smoking sobre calções de banho.
Os brasileiros do período ficaram loucos? – pergunta o viajante do tempo.
Um animado Millôr Fernandes, então jovem, (o que nunca deixou de ser, pois jovem é quem carrega a disposição e a alegria no espírito), comandava um inusitado protesto.
O Brasil vivia um período de moralidade extravagante conduzida pelo então austero presidente marechal Eurico Gaspar Dutra e, como acontece em períodos de palidez do bom senso, o então zeloso delegado da moral e dos bons costumes (minha avó ainda lembra), o Senhor Deraldo Padilha, baixou uma portaria proibindo ao banhista andar sem camisa fora das areias da praia. Foi aberta a temporada de caça aos mamilos.
Caminhonetes da polícia e agentes uniformizados e à paisana espalhavam-se na busca de prováveis infratores da lei. A polícia da época devia ter pouco trabalho e os morros não eram ainda infestados por traficantes.
Millôr convocou a juventude para o saudável protesto matinal e aquele domingo deve ter sido inesquecível. Rapazes de paletó, cartola e cachecol, ao lado de moças com pernas de fora e descalças vestindo casacos de pele (ecologistas, a natureza ainda não estava no currículo naquele tempo), desfilavam entre os constrangidos agentes da lei.
A portaria do delegado Padilha caiu no esquecimento do próprio ridículo e o verão carioca viu-se livre de uma insana ameaça que corria na contramão da história.
De modo leve, irônico e magistral, Millôr e aquele grupo de jovens desferiram um golpe fatal na prepotência. Anos duros ainda viriam, mas a semente da irreverência estava plantada entrando, definitivamente, na alma nacional.
Excelente verão a todos e não se esqueçam do protetor solar: em 1949 a camada de ozônio ainda estava intacta. Alea jacta est!
... trazendo junto queimaduras, alegria e a irreverência tupiniquim ganha mais força, forma e cor de bronze em provocantes tangas coloridas.
O mundo nos conhece pelo Carnaval, futebol e dourado esticado por um período relativamente longo de exposição nas praias que se derramam por mais de 8000 km de litoral, sem contar os rios, as represas, as piscinas e os clubes do interior.
Creio que nosso bom humor e irreverência são fortemente alimentados pela energia que essa época nos traz. Minha tese ganha força ao me deparar com a excelente matéria Chegou o Verão, de Dorrit Hazarim, Revista Piauí 27. Fui logo atraído por uma insólita foto de um casal desfilando no calçadão de Copacabana, estando o homem de paletó de smoking e camisa, com calção e descalço, acompanhado de uma jovem com casaco de pele e maiô da década de 40.
A leitura da matéria tornou-se irresistível. Fomos transportados pelo túnel do tempo ao ano de 1949, manhã de 11 de dezembro, praia de Copacabana aonde um grupo de viaturas da polícia assistia a uma pelada de voleibol travada por jovens trajando paletós e cartolas de smoking sobre calções de banho.
Os brasileiros do período ficaram loucos? – pergunta o viajante do tempo.
Um animado Millôr Fernandes, então jovem, (o que nunca deixou de ser, pois jovem é quem carrega a disposição e a alegria no espírito), comandava um inusitado protesto.
O Brasil vivia um período de moralidade extravagante conduzida pelo então austero presidente marechal Eurico Gaspar Dutra e, como acontece em períodos de palidez do bom senso, o então zeloso delegado da moral e dos bons costumes (minha avó ainda lembra), o Senhor Deraldo Padilha, baixou uma portaria proibindo ao banhista andar sem camisa fora das areias da praia. Foi aberta a temporada de caça aos mamilos.
Caminhonetes da polícia e agentes uniformizados e à paisana espalhavam-se na busca de prováveis infratores da lei. A polícia da época devia ter pouco trabalho e os morros não eram ainda infestados por traficantes.
Millôr convocou a juventude para o saudável protesto matinal e aquele domingo deve ter sido inesquecível. Rapazes de paletó, cartola e cachecol, ao lado de moças com pernas de fora e descalças vestindo casacos de pele (ecologistas, a natureza ainda não estava no currículo naquele tempo), desfilavam entre os constrangidos agentes da lei.
A portaria do delegado Padilha caiu no esquecimento do próprio ridículo e o verão carioca viu-se livre de uma insana ameaça que corria na contramão da história.
De modo leve, irônico e magistral, Millôr e aquele grupo de jovens desferiram um golpe fatal na prepotência. Anos duros ainda viriam, mas a semente da irreverência estava plantada entrando, definitivamente, na alma nacional.
Excelente verão a todos e não se esqueçam do protetor solar: em 1949 a camada de ozônio ainda estava intacta. Alea jacta est!