Lembranças de um café

Olhava pela janela por onde se descortinava o quintal molhado pela gostosa chuva de verão. Desprendiam do varal, gotas preguiçosas, sobras de chuva, cada vez que o vento vinha brincar com o arame. Um aroma inconfundível de café invadia aquela pequena, mas acolhedora casa, e se misturava ao cheiro da receita mais disputada de minha avó, o bolo de fubá. Absorto em meus pensamentos infantis, ouvia a voz cansada mais ainda suave e harmoniosa de minha avó me chamando para saborear o café com o macio e quente bolo de fubá. O café, colocado numa caneca esmaltada, produzia uma simpática fumaça branca  que emergia daquele lago negro tal qual uma dançarina e se desfazia logo em seguida. Hoje, tomando um café expresso, não tenho tempo de ver bailarinas emergindo da xícara e nem ouço a voz angelical de minha avó, mas sim a voz de garçons estressados dizendo: ___ “Sai um expresso pro cidadão aqui.”

Foto: (c) Tomo.Yun (www.yunphoto.net/pt/)