A quase escolha de Sofia (Eutanásia)
Volto de um domingo em que visitei uma amiga, velha amiga de longa data.
Nos últimos anos, meus domingos são em sua companhia.
Está neste momento atravessando uma dura provação, uma quase escolha de Sofia.
Sua mãe, de 84 anos , há 4 anos depende dela para tudo, tem o Mal de Alzheimer, que veio lentamente, incapacitando-a para tudo.
Minha amiga , trabalha o dia todo , é uma baita professora de Inglês, e para que sua mãe não fique sem assistência, possui três pessoas, que se revezam nos cuidados com ela, naturalmente , trabalho muito bem pago.
Nestes últimos três meses, que estive ausente do país, minha amiga deprimiu-se muito. Foi com espanto que vi , como o estado da sua mãe , e a convivência diária com um mal irreversível, deixou-a frágil psicologicamente, e com várias seqüelas físicas, que não entrarei em detalhes.
Surge agora , uma proposta de uma das irmãs dela, de colocarem numa casa de repouso para idosos, na nossa região, a mãe que há 4 anos absorve todos os seus minutos vagos.
Vi hoje como está estraçalhado seu coração, entre a dúvida , do que fazer.Sabe ela , que a mãe já não percebe quase nada, que não reconhece mais ninguém. Mas seu coração de filha, e os moldes em que foi criada, deixam-na numa tensão incrível para fazer essa dura escolha.
Peço aos Anjos do Céu, que quando minha amiga for visitar essa casa de repouso, que lhe dêem um sinal, se ela avistar algo agradável, poderá deixar sua mãe no local, pois será adequado.Ou então que ela assista algo bem desagradável, e saiba que não é lugar para a mãe dela.Pelo menos assim terminaria com essa angústia, que compromete inclusive sua sanidade mental.
Vá amiga!!!Daqui fico rezando!!!
E rezei...lá ela passou dois meses, mas não houve adaptação, minha amiga trouxe-a de volta, para sua casa.
Hoje a senhora não reconhece mais ninguém , já usa aparelhos que a ajudem respirar, minha amiga não tem um único de sossego, suas irmãs são contra o desligar o aparelho, porque não são elas que cuidam dela...
Eu que era contra a Eutanásia, mudei de opinião, quando esse problema chegou perto de mim, não sei quem poderia desligar, mas tenho certeza que a hora chegou, é triste , mas é real.Ela não sente, não fala, já não se move, uma vida de vegetal, talvez até pior porque o vegetal , balança com o vento...