A ausência da alegria

Tiago Caldeira

Não é nada agradável chegar em casa e ver minha mãe chorando. Fica sempre um mistério no ar.

Sai do serviço e fui para casa feliz. Ao chegar, minha mãe estava chorando no sofá. Preferi pensar que ela estava rezando, mas logo percebi que ela estava soluçando. O que fazer diante de uma situação como esta? Suas características indicavam que estava saindo ou talvez chegando. Todos nós sabemos que em casa existem problemas familiares. Sabemos também, que na rua existem o caos e a selvageria que assolam as vidas em geral. Seja num relacionamento íntimo afetivo ou fraternal, sempre há confrontos, nos quais, uma palavra basta, para deixar uma pessoa em profundo estado de tristeza. Além de tudo isso, existem os problemas dos filhos chegando tarde, andando em más companhias, o que pode deixar as mães extremamente preocupadas - quando se preocupam.

E quando um filho que não tem muita maturidade, mas já consegue refletir sobre vários fenômenos da vida, vê sua mãe chorando no sofá da sala de estar? Pensei em perguntar o que tinha acontecido. Mas, primeiro tentei olhar em seu rosto, que tentava esconder. Logo percebi que não era a melhor coisa a ser feita naquele instante. Tentar entender uma pessoa que trabalha fora e, quando chega, tem que fazer almoço, limpar casa, olhar os materiais escolares do filho mais novo, etc. Definitivamente, não é tarefa fácil. Sentei ao lado e fiquei fingindo que tudo estava normal, mesmo não estando. E ela continuava a chorar. A sua roupa inusitada servia para enxugar as lágrimas, que pareciam não ter fim. A calça que estava estreando parecia não fazer sentido. Talvez a minha presença, mesmo silenciosa, surtisse algum efeito.

Quando não tem ninguém em casa, além de nós e flagramos a mãe aos prantos, devemos ficar ao lado e entender ou não? Imaginei pegar em sua mão e, assim, transmitir confiança e carinho que só um filho pode dar. Sem chance, pois ela estava de braços cruzados e debruçados. O que fazer quando vemos a mãe da gente nesse estado? Fiz-me presente, entretanto, fui atingido pela sensibilidade e não consegui fazer mais nada além de chorar junto.

Tiago Caldeira da Silva