Adeus ano velho!
Boa noite meu velho! – Disse eu àquele senhor, sentado sozinho no banco da praça, olhando quem passa, com seu ar cansado, rosto marcado, barba branca e longa, olhar perdido ao longe, ombros caídos, mãos trêmulas segurando seu cajado, usado para ajudar suas pernas em seus últimos passos, sorriso escondido de quem está chegando ao fim e apenas esperando sua hora chegar.
- Boa noite meu filho – respondeu o velho com sua voz rouca, baixa e muito cansada
O senhor não está bem? – perguntei
- É verdade, minha hora está chegando meu filho. Já cumpri minha missão. Todo mundo está esperando minha partida. Alguns com emoção. Outros com tristeza no coração.
- Estou contando as horas – continuou – Parece que foi ontem que fui recebido com festa. Até aqueles homens e mulheres que vivem ao relento me esperavam chegar. Quando cheguei o mundo todo já estava enfeitado de luzes, fogos coloridos e alegrias.
- A esperança – continuou o velho - era a companhia de todos, as roupas novas e cada ser com sua cor predileta, suas mandingas, suas simpatias acreditando que tudo seria diferente quando eu nascesse e na contagem regressiva, muitos choravam, outros dançavam, alguns rezavam, outros buscavam dentro de si a esperança. Mas todos comemoravam a minha chegada. Eu representava, naquele momento, uma nova vida, novos amores, novos sonhos, retornos esperados, retomadas de paixões, e principalmente a paz.
É verdade – interrompi - Todos nós esperamos melhorar a vida, as relações, a sorte, as paixões, conquistar novos amores, manter o amor, cultivar pra não perder, se encontrar, nova vida viver. Eu também, meu velho. Eu também sonhei muito. Quis muitas coisas. Sonhei em encontrar um grande amor. Acabei encontrando. Tantas coisas aprendi. Tanto ganhei. Tanto perdi.
- Pois é meu filho – disse o velho me interrompendo também – Está quase na hora de ir. Em mim muitos sonhos foram realizados. Muitos amores, muitas pessoas, muitos sonhos, nasceram e morreram. Muitos foram felizes. Outros tantos sofreram. Alguns contaram o tempo para eu passar logo. Outros torceram para que eu parasse e deixasse que eles vivenciassem aquele momento de amor, felicidade, alegria sabendo que talvez jamais se repetiriam.
É verdade meu velho. – disse eu - Novamente eu sou testemunho disso. Também quis que o tempo parasse e que ele me deixasse ali, naquele exato momento, e nunca mais desse um passo à frente. Mas o tempo é implacável, Ele não para e nem tem sentimento. O tempo é frio e passa como o vento.
- Meu filho, tenho que ir. Meu presente está chegando ao fim. Ontem fui futuro. Já serei passado. Página virada, talvez por alguns esquecida ou por outros lembrada, mas já vejo a contagem regressiva para a minha morte, o fim da minha jornada.
O velho, já muito cansado, me entregou um livro e disse: - É meu presente de despedida.
Peguei o livro e no título estava escrito 2009 e 365 páginas numeradas e em branco. Então perguntei – Não tem nada escrito, meu velho? E então ele disse:
- Este livro é seu. Nele você escreverá mais um capítulo de sua história. Por isso as páginas em branco, pois é você quem dá o rumo da sua vida, dos seus passos. Você e só você é capaz de escrever cada capítulo de sua história de vida. Escreva meu filho, faça de sua vida aquilo que você deseja. Sonhe, mas não deixe seus sonhos dormindo no seu travesseiro, acorde-os e realize cada um deles.
- Tenho que ir... Estou morrendo... Quero que você, depois de minha morte, comemore a chegada do novo ano. Com ele novas esperanças também chegarão e com certeza o novo ano trará muita paz, alegria, amor, felicidade e fé para todos.
Enquanto o novo ano chegava e era comemorado por todos com festa, o velho morria e ninguém mais dele se lembraria.
Adeus velho
Feliz ano novo
E tenha pressa de viver um ano melhor, de reencontrar a si e ao outro, tenha pressa de se declarar, de se mostrar, de ser feliz. Tenha pressa, porque a gente não sabe quanto tempo o tempo nos dará e o tempo passa com muita pressa. Então, tenha pressa...
(Jorge Luiz Vargas – 31-dez-2008)
Boa noite meu velho! – Disse eu àquele senhor, sentado sozinho no banco da praça, olhando quem passa, com seu ar cansado, rosto marcado, barba branca e longa, olhar perdido ao longe, ombros caídos, mãos trêmulas segurando seu cajado, usado para ajudar suas pernas em seus últimos passos, sorriso escondido de quem está chegando ao fim e apenas esperando sua hora chegar.
- Boa noite meu filho – respondeu o velho com sua voz rouca, baixa e muito cansada
O senhor não está bem? – perguntei
- É verdade, minha hora está chegando meu filho. Já cumpri minha missão. Todo mundo está esperando minha partida. Alguns com emoção. Outros com tristeza no coração.
- Estou contando as horas – continuou – Parece que foi ontem que fui recebido com festa. Até aqueles homens e mulheres que vivem ao relento me esperavam chegar. Quando cheguei o mundo todo já estava enfeitado de luzes, fogos coloridos e alegrias.
- A esperança – continuou o velho - era a companhia de todos, as roupas novas e cada ser com sua cor predileta, suas mandingas, suas simpatias acreditando que tudo seria diferente quando eu nascesse e na contagem regressiva, muitos choravam, outros dançavam, alguns rezavam, outros buscavam dentro de si a esperança. Mas todos comemoravam a minha chegada. Eu representava, naquele momento, uma nova vida, novos amores, novos sonhos, retornos esperados, retomadas de paixões, e principalmente a paz.
É verdade – interrompi - Todos nós esperamos melhorar a vida, as relações, a sorte, as paixões, conquistar novos amores, manter o amor, cultivar pra não perder, se encontrar, nova vida viver. Eu também, meu velho. Eu também sonhei muito. Quis muitas coisas. Sonhei em encontrar um grande amor. Acabei encontrando. Tantas coisas aprendi. Tanto ganhei. Tanto perdi.
- Pois é meu filho – disse o velho me interrompendo também – Está quase na hora de ir. Em mim muitos sonhos foram realizados. Muitos amores, muitas pessoas, muitos sonhos, nasceram e morreram. Muitos foram felizes. Outros tantos sofreram. Alguns contaram o tempo para eu passar logo. Outros torceram para que eu parasse e deixasse que eles vivenciassem aquele momento de amor, felicidade, alegria sabendo que talvez jamais se repetiriam.
É verdade meu velho. – disse eu - Novamente eu sou testemunho disso. Também quis que o tempo parasse e que ele me deixasse ali, naquele exato momento, e nunca mais desse um passo à frente. Mas o tempo é implacável, Ele não para e nem tem sentimento. O tempo é frio e passa como o vento.
- Meu filho, tenho que ir. Meu presente está chegando ao fim. Ontem fui futuro. Já serei passado. Página virada, talvez por alguns esquecida ou por outros lembrada, mas já vejo a contagem regressiva para a minha morte, o fim da minha jornada.
O velho, já muito cansado, me entregou um livro e disse: - É meu presente de despedida.
Peguei o livro e no título estava escrito 2009 e 365 páginas numeradas e em branco. Então perguntei – Não tem nada escrito, meu velho? E então ele disse:
- Este livro é seu. Nele você escreverá mais um capítulo de sua história. Por isso as páginas em branco, pois é você quem dá o rumo da sua vida, dos seus passos. Você e só você é capaz de escrever cada capítulo de sua história de vida. Escreva meu filho, faça de sua vida aquilo que você deseja. Sonhe, mas não deixe seus sonhos dormindo no seu travesseiro, acorde-os e realize cada um deles.
- Tenho que ir... Estou morrendo... Quero que você, depois de minha morte, comemore a chegada do novo ano. Com ele novas esperanças também chegarão e com certeza o novo ano trará muita paz, alegria, amor, felicidade e fé para todos.
Enquanto o novo ano chegava e era comemorado por todos com festa, o velho morria e ninguém mais dele se lembraria.
Adeus velho
Feliz ano novo
E tenha pressa de viver um ano melhor, de reencontrar a si e ao outro, tenha pressa de se declarar, de se mostrar, de ser feliz. Tenha pressa, porque a gente não sabe quanto tempo o tempo nos dará e o tempo passa com muita pressa. Então, tenha pressa...
(Jorge Luiz Vargas – 31-dez-2008)