ÉRAMOS FELIZES E SABÍAMOS
Findava o ano de 1956. Proximidades do Natal em Curitiba.
Bem cedinho, mamãe nos acordava. Brincava de um modo especial com cada um de nós. Assoprava na barriga do coceguento de meu irmão, que ria convulso, quase perdendo o fôlego.
— Vamos, vamos, vamos levantar e lavar essas fuças. Senão não vai haver café!
— Tem bolo de fubá, mãe? – perguntava minha irmã caçula, Gracyl.
Abrindo bem ambos os braços, nossa mãe dizia:
— Fiz um bolão deste tamanho.
— Nossa! – exclamava, alegre, Gracyl.
— Do tamanho da bacia de lavar? – perguntava meu irmão, Luiz Carlos.
Minha mãe, rindo, assentia, movimentando a cabeça de cima para baixo.
— Oba! – falávamos em coro enquanto íamos nos despindo dos pijamas enflanelados com desenhos da turma da Disney.
— Vamos passear hoje? – questionava Gracyl.
— Sim, vamos até o Passeio Público.
— Vamos comer pipocas também? – queria saber Luiz Carlos.
— Pipocas e sorvetes – respondia mamãe enquanto me mandava buscar a bacia para que ela desse banho no Luiz Carlos, que tinha feito xixi na cama.
Após o café, todos nós, bem arrumadinhos e penteados por ela e papai, nos dirigíamos à igreja para assistir à missa. Isso acontecia em quase todos os domingos.
Após almoçarmos aquela deliciosa macarronada, frango à moda caipira, maionese e uma gostosa limonada gelada, ajudávamos mamãe na limpeza da cozinha.
Papai aproveitava para tirar uma soneca.
Às quinze horas, ganhávamos à rua para irmos em direção ao ponto de ônibus, na Avenida João Gualberto. Com um mesmo sorriso estampado na face de cada um de nós, descíamos no ponto do Passeio Público. Aquele enorme espaço todo arborizado era uma festa para nossos olhos. Imediatamente nos aproximávamos do carrinho de pipoca. Um pacote para cada um de nós. O alarido dos macaquinhos fazia com que parássemos e, pasmos, observávamos as acrobacias dos bichinhos. Luiz Carlos queria ver as jaulas dos leões, e para lá nos dirigíamos. Gracyl gostava dos pijamas listrados das zebras.
Passando perto de um lambe-lambe, papai quis que ele nos fotografasse, registrando mais um daqueles belos momentos em família.
Eu deveria, naquela época, ter pedido uma coisa ao Papai Noel: que o bom velhinho pedisse a Deus que fizesse o relógio do tempo enguiçar, sem condições de reparos.
Domingo, 30 de novembro de 2008.