ESTE LUGAR SOU EU
 
 
       Morava no Catetinho. Circunstância e imposição do momento da vida.
         Tempos atrás eu passei uma semana no Rio, no apartamento de alguém, nem lembro se meu mesmo estava procurando apartamento para alugar. Depois voltei pro Catetinho em Pedro do Rio.
         Aqui no Catetinho me surpreendi com a pobreza desta casa. Precisei ficar no Rio, dentro de um apartamento sem bichos, sem buracos, totalmente protegida num andar alto, um período direto de uma semana, para ver a diferença desta moradia aqui.                 Faltam forros de tetos de alguns cômodos, pintura, limpeza, móveis...
         Varri tudo, lavei a cozinha, tudo seco lá fora, Reguei tudo e lavei o carro.
         Eu gosto deste lugar.
         Este lugar sou eu. Isto se deu em novembro de 2001.
         E como não estranho tanta simplicidade! Essa gente toda da redondeza deve achar que sou igual a eles, empregados, é bem possível. A casa deles, caseiros, é bem mais construída do que a minha. Eles podem pensar isso. Mas não é nada disso. Deixa pra lá.
         Para mim, esta simplicidade me põe junto. Não sei me põe em contato. É a natureza. E o simples é bom. Gosto de coisa estética e harmoniosa, mas não gosto de lugar arrumadinho demais. Perco o conforto. Tenho que viver com o lugar. Tem que desarrumar. Tem que ser usado! Ter vida, uso. Ter água, fogo e ar.
         Eu sonhei tanto em ser feliz! Eu tinha quinze anos.
         Passados cinqüenta anos, não consegui nada daqueles desejos. Eu tinha tanta certeza que ia ser feliz, como achava que os homens iam pra guerra quando adultos e as mulheres não...
         Mas a vida vai ensinando coisa vai ensinando viver com a experiência. Coisas ruins e coisas boas. Uma grande Escola, a Vida.
         Estou percebendo que no saldo de todas essas coisas vividas, o que sou é ser muito simples, Tantas experiências, tanto estudo e sou na essência uma pessoa ligada ao simples, à essência das coisas e de eu mesma. Sinto-me bem com apenas o essencial, com a Natureza e a liberdade com poder de deliberação. Ou seja, sou livre. Gosto da liberdade, das plantas, das flores, das árvores, dos bichos, das aves, dos meus cães na minha porta. Gosto do desenho. Meu desenho é bonito. Gosto de escrever diariamente; gosto de bordar, de lavar roupa na máquina. Gosto de costurar, de artesanato. Gosto de ler e de Arte.
         Sou extremamente simples e livre de condicionamentos sociais, crio o meu próprio comportamento. Canto muito. Todos os dias.
         Eu sou uma pessoa linda. Beleza interior. Sabedoria. Inteligente demais e diferente do comum.
         Não sinto infelicidade, porque tenho muito conteúdo. Se não estou escrevendo ou lendo, estou ouvindo meus discos ou cantando. Tenho sempre coisas interessantes a fazer. Não sinto solidão. Nem medo. Sinto falta da ternura humana, mas consigo viver sem ela.
         Se sou infeliz, nem sei. Mas não sou triste.
         Escrevendo sobre esta época da minha vida, sinto que sou muito especial, muito interessante, íntegra e de caráter.
         Eu me faço companhia.
         Eu sou boa e linda. Mas as pessoas não sabem ninguém me conhece. Nem importo. Eu me basto. Em verdade minha vida tem tido uma seqüência enorme de frustrações. Mas foi por aí mesmo que aprendi a viver em paz e só.
         Tenho orgulho de mim.
          Sou essencialmente simples e verdadeira. Adoro as pessoas, adoro o amor. Tanto a Natureza quanto as Pessoas eu trato com todo amor. Ninguém tem idéia de mim. Mas isto eu não me importo nem faço questão. Importa-me mesmo é ser.
         Eu sou este lugar, esta casa, o Catetinho. Por isto que toda vez que aqui volto eu me surpreendo de tanto gostar daqui e de como aqui me sinto bem. Casa querida. Esta casa é minha. É um lugar abençoado debaixo deste telhado. Só eu sei. Talvez seja uma espécie de santuário. Quando aqui entro e estou, a paz se espalha. Meus filhos detestam. Os parentes me invejam, “porque a tia não vai morar lá em baixo no seu sítio que tem piscina, futebol e mais conforto”? Eu sou este lugar. Os anos vão passando, eu pensava que não chegaria a 2000. E já vou pra 2009, cada vez mais renovada, mais simples ainda, pois o supérfluo é desnecessário. A riqueza é dentro. “Ano 2009, Novas-Felicidades pra todos os bons e conserve bem ESTE LUGAR”. Não se sinta abandonado. Estou no Rio, adorando o meu sofá novo e a minha mesa preta nova. Mas nada se compara a sua magia! Volto cá de vez em quando...