Saudades de 2008
Ontem, por volta da meia-noite, meu telefone tocou. Surpreendeu-me cochilando sobre um livro de crônicas do Nelson Rodrigues, presente de Natal, certamente, o único.
Iniciara a leitura, e logo fui vencido pelo sono, que só me deixou ler três ou quatro crônicas. Adormecera, divertindo-me com as frases lapidares do Anjo Pornográfico.
Na linha, uma velha amiga que se dá ao trabalho de visitar, com generosa freqüência, meu simplório site.
Adoro-a E querem saber por quê? Porque ela nem sempre faz comentários elogiando minhas crônicas.
Suas opiniões, suas críticas são causticas, vez em quando impiedosas, mas de uma sensatez irrefutável.
Bêbado de sono, a escutei dizer: - "Como é, não sai a crônica de fim de ano?"
Reclamei com telefonema fora de hora. E ela nem ligou. Aí, perdi o sono.
Fui à geladeira, bebi um guaraná, e, em seguida, abri o computador.
Crônica de fim de ano? Dizer o quê?
Em verdade, só tinha a opção de sempre: xingar 2008 e apostar em 2009. É o que, repetidamente, se vem fazendo nas estrepitosas festas de Réveillon.
Para não malhar o ano-velho nem bajular o ano-novo, decidi saber dos astros como será, em 2009, o dia-a-dia deste irrequieto pisciano.
Consultei mapas astrológicos e dezenas de horóscopos. Pouca coisa encontrei capaz de satisfazer, plenamente, o pessoal de Peixes!
Resolvi, então, procurar uma cartomante. Cartas na mesa, e um inteminável desfile de assustadoras previsões...
Em resumo: 2009 não será um dos melhores anos na vida deste viandante, já a caminho do seu ocaso.
E, segundo consta, "as cartas não mentem jamais".
Des0lado, despedi-me da cartomante. Deixei-a, convencido de que 2008 fora um ano de excelentes dias.
Fiz ótimas viagens;
não briguei com minha doce Ivone;
não visitei farmácias;
não contrai dívidas;
não sofri acidentes;
não fui assaltado;
escapei de balas perdidas;
e numa atitude heróica, mantive meus cartões de crédito rigorosamente dentro de seus respectivos limites.
Por último, graças a internet, reencontrei uma querida amiga que, lá do Ceará, fez a gentileza de me enviar um eloqüente e carinhoso e-mail...
Oh! Quantas boas recordações nos unem, e que, neste mais de meio século de separação e distância, não desapareceram...
Quero dizer, que esse reencontro, embora virtual, também me fará sentir uma saudade imensa de 2008.
Quanto a 2009, resta-me rezar para que as cartas da palavrosa cartomante estejam, pelo menos desta vez, mentindo...