Uma Carraça na Cama
Hoje ao acordar descobri horrorizada que se encontrava uma carraça na minha cama. Junto à almofada, gorda, abjecta, hirta, serena. De barriga repleta de sangue. Ingurgitada até ao limite de distensão do seu compartimento abdominal. Abominável.
Imaginei-a a alimentar-se do meu sangue, enquanto eu dormia e senti a náusea percorrer-me as veias causando-me obnubilação. Queria expulsar o acontecimento de mim. Mas já era tarde. O roubo estava consumado. O bicho tinha engrandecido à minha custa. Comendo o que era meu. Não tinha maneira de ser ressarcida.
Apenas me restava acabar com a vida do animal. Mas como cometer o acto sem lhe tocar? A ideia de voltar a contactar fisicamente com aquele ser asqueroso era-me fisicamente dolorosa. Mesmo com luvas.
Restou-me embrulhar os lençóis cuidadosamente fazendo uma trouxa e colocar o entulho num saco de plástico preto. Dirigi-me ao contentor do lixo mais próximo e abandonei o presente. Aquele monstro vil e lambanceiro que surgira do nada para me contaminar.
Como foi possível ter acontecido um pesadelo destes? Como pode um ser tocar-nos, fazendo-nos sentir tamanho asco?
Como permiti que uma carraça faminta, cobiçosa, lazarada, se alimentasse às custas do meu próprio sangue?
Se fui eu a convidá-la, inadvertidamente, para entrar, então paguei alto demais. O castigo foi desproporcionado ao meu crime. A pena superou a minha falha.
A vida é assim mesmo. Temos de estar atentos. As carraças chupam o sangue a quem podem. Não é nada pessoal. Está na sua natureza e contra isso nada existe para o impedir.
Temos de estar duplamente vigilantes. Examinar o que pisamos na rua. Perscrutar a sola dos sapatos antes de entrar em casa. Ou então fazer como os japoneses e descalçarmo-nos à beira da porta.
Hoje ao acordar descobri horrorizada que se encontrava uma carraça na minha cama. Junto à almofada, gorda, abjecta, hirta, serena. De barriga repleta de sangue. Ingurgitada até ao limite de distensão do seu compartimento abdominal. Abominável.
Imaginei-a a alimentar-se do meu sangue, enquanto eu dormia e senti a náusea percorrer-me as veias causando-me obnubilação. Queria expulsar o acontecimento de mim. Mas já era tarde. O roubo estava consumado. O bicho tinha engrandecido à minha custa. Comendo o que era meu. Não tinha maneira de ser ressarcida.
Apenas me restava acabar com a vida do animal. Mas como cometer o acto sem lhe tocar? A ideia de voltar a contactar fisicamente com aquele ser asqueroso era-me fisicamente dolorosa. Mesmo com luvas.
Restou-me embrulhar os lençóis cuidadosamente fazendo uma trouxa e colocar o entulho num saco de plástico preto. Dirigi-me ao contentor do lixo mais próximo e abandonei o presente. Aquele monstro vil e lambanceiro que surgira do nada para me contaminar.
Como foi possível ter acontecido um pesadelo destes? Como pode um ser tocar-nos, fazendo-nos sentir tamanho asco?
Como permiti que uma carraça faminta, cobiçosa, lazarada, se alimentasse às custas do meu próprio sangue?
Se fui eu a convidá-la, inadvertidamente, para entrar, então paguei alto demais. O castigo foi desproporcionado ao meu crime. A pena superou a minha falha.
A vida é assim mesmo. Temos de estar atentos. As carraças chupam o sangue a quem podem. Não é nada pessoal. Está na sua natureza e contra isso nada existe para o impedir.
Temos de estar duplamente vigilantes. Examinar o que pisamos na rua. Perscrutar a sola dos sapatos antes de entrar em casa. Ou então fazer como os japoneses e descalçarmo-nos à beira da porta.