À MINHA QUERIDA EVELYN
Costumo dizer que até os objetos têm destino.
E nós que endeusamos as letras, sempre estamos a andar pelos locais em que elas mais estão: as livrarias e os sebos.
Certa vez, eu andava por uma cidadezinha aqui do interior de São PAulo, e lá no seu centro comercial próximo à sua capela ( capelas...que aliás,também são uma das minhas paixões), adentrei pela porta semiaberta, dum diminuto espaço que expunha vários livros.
É impressionante como garimpamos pérolas da literatura mundial nesses lugares.E o mais interessante, vez ou outra, n'algumas dedicatórias, capitamos pedaços de emoções das vidas que sequer passaram por nós, a menos que coincidentemente as tenhamos notado pelos nossos caminhos.
Aleatóriamente abri um pequeno livro, atraída por suas cores pastéis, na expectativa de encontrar um tesouro no seu interior.
E realmente o encontrei.
Uma fina brochura de mais ou menos cinquenta folhas, em cuja velha capa dura dum fundo mesclado de rosa e pink, pincelava-se belas orquídeas em arte de "aquarela" , e que emolduravam o seu título:
FOR YOU , MY LOVE!
Encantei-me com o todo!
Reportei-me então aos dados de registro da obra. Tratava-se duma coletânea de poemas ingleses, escritos em mil novecentos e vinte, por um autor que no momento não me recordo o nome, no Reino Unido.
Na sequência, curtos poemas de amor, expressavam com arte os sentimentos em belas rimas da língua inglêsa.
MAs o principal motivo do meu texto se deve a dedicatória que lá estava inscrita em português:
À minha querida Evelyn:
A de espírito mais alegre, e que mais irradia amor, um amor tão belo, tão lindo, tão suave...
Com o mesmo amor, pela passagem do seu aniversário,
Do seu Jonh.
Londres, reveillon de 1940.
Viajei sob a neve derretida pela tal dedicatória.
Naquele dia tive a certeza deste meu sentimento, o de que as coisas têm destino sim!, e que embora soltas a mercê do tempo, sempre se perpetuam, ainda que em outras mãos.
Adquiri a obra e guardei aquele livrinho a sete chaves, depois de lê-lo várias vezes.
Nunca mais o encontrei...mas o compreendi.
Sentimentos nunca ficam trancados, e o livro com certeza se libertou para continuar a viajar pelos sebos do tempo...