CADA UM É COMO É
Desde que el mundo es mundo / cada uno es como es ( José Ga ). E você, que é como é , o que diria sobre a tristeza. Pensaria tal qual Montaigne, que não apreciava nem valorizava tal sentimento e condenava os homens por respeitá-lo e estimá-lo e com ele enfeitar -“ com esse adorno pobre e feio” - a sabedoria, a virtude e a consciência? Ou você é dos que acredita que existem tristezas que são suscetíveis de se exprimir em lágrimas e outras onde a dor é tão sofrida que fica além de qualquer expressão?
Existe uma personagem da mitologia chamada Niobé que os poetas descreviam como “petrificada na dor” tamanha a sobrecarga de desventura por ela recebida, perdeu seus sete filhos viu morrer as sete filhas. O sentido que é dado ao “petrificada na dor” corresponde a uma espécie de embrutecimento sombrio, surdo e mudo que se apodera de nós quando as ocorrências nos esmagam ultrapassando o que nos é dado suportar. E, efetivamente, uma dor excessiva, exatamente porque excessiva, deve estupidificar a alma a ponto de paralisar qualquer gesto, como acontece quando recebemos inesperadamente uma péssima notícia. Somos tomados de espanto, penetrados de pavor ou de aflição e como tolhidos em nossos movimentos até que à prostração suceda o relaxamento. Surgem então as lágrimas e os lamentos que aliviam a alma e como que lhe permitem mover-se mais à vontade: “é como exprimir sua dor”. (Virgílio) – Ensaios – I - Da Tristeza - Montaigne.
Em verdade cada um é como é. É dito que o homem é de natureza muito pouco definida, estranhamente desigual e diverso. Dificilmente o julgaríamos de maneira decidida e uniforme. Enquanto um chora outro ri, enquanto um se diz triste outro se diz alegre, enquanto um mente outro diz a verdade, enquanto um ama outro desama, enquanto um vive outro morre. Assim são os homens, assim é a vida. Quanto a vida, só nos resta vivê-la e suportá-la. Quanto aos homens, que nos aturemos mutuamente.