MOMENTOS DE UMA VIDA(*)
A vida prega algumas peças.
Sempre quis registrar para uma posterior análise alguns fatos que considerava importantes e significativos. Algo que relacionasse com o interior emocional da alma e que pudesse deixar marcas e reflexos para a vida prática. Queria que as pessoas soubessem, no momento certo, como é a vida verdadeira e, também deixar para outras gerações alguma experiência, para reflexão.
Com ousadia, perspicácia e coragem comecei a pesquisar e anotar dados que pudessem servir de base para o intento. Depois de muito pensar e avaliar selecionei momentos que mexem com o interior das pessoas.
Achei viável analisar membros de uma família, que em sua época não tinha condições materiais e visão global para enxergar a evolução futura do mundo e do país. Esforçavam-se para viver e só viver. Assim é que no meio dessa circunstância, real e intelectual, não aflorou mais cedo uma natural ambição para conquistar um melhor lugar nas labutas do dia-a-dia. Como numa prova para seleção, onde os competidores são diferentes quanto à origem, força e educação, os mancebos cresceram com atrasos significativos de desenvolvimento intelectual e sem os meios mais dignos para uma sobrevivência natural do ser humano. Mesmo assim, num deles, aflorou-se uma ambição para a conquista de um espaço e destaque no meio profissional que escolhera e na comunidade em que convivia.
Talvez, uma sorte tenha o levado para um colégio de administração religiosa, onde foram iniciados os primeiros conhecimentos acadêmicos. Dali, como um plebeu ambicioso, chegou-se ao máximo, de onde o preconceito deixou chegar.
O tempo passava e, emocionalmente corria atrás de algo que não sabia bem o que era. Profissionalmente desejava sucesso e um reconhecimento público de seus pares e de consangüíneos. O inconsciente ambicioso, que sem saber direito o que era, procurava o sentir bem do “eu” consciente e que no coração, em compassos acelerados, queria.
Hoje, é apenas uma relembrança da infância e da juventude dura e perversa, mas que soube forjar a temperança daqueles que anseam pela vitória.
O tempo passado rapidamente, sem apadrinhamentos e sem visão histórica, foi insuficiente para galgar e descobrir melhores caminhos. Não foi conseguido, no tempo próprio, vislumbrar no horizonte uma vida mais útil, mais prazerosa, mais saudável e mais promissora. Poucos concordarão com essa afirmativa, porque, não saberão quais foram os desejos e ambições do jovem de ontem. Aprendeu, agora, que para se alcançar um futuro brilhante as ações e fatos devem ser preparados no presente. E o presente, que era o futuro do passado, está preste a sucumbir e logicamente não deixará saudades.
A partir dessa premissa, passei a analisar quais teriam sido os erros cometidos. A co-relação de atitudes têm a haver com a vida.
Um deles foi imaginar e desejar um melhor sentir bem sem uma base social sólida. Um sentir bem é individual, mas relativo. No silêncio interior sabemos o que é melhor para cada um. O cronista Arnaldo Jabor, em seu livro AMOR É PROSA, SEXO É POESIA disse que “O amor impossível é o verdadeiro amor”. Pode-se então tirar conclusões próprias.
Muitas mulheres sentem-se “proprietárias” de seus companheiros e também de seus pais. Muitas não sabem construir, somar, crescer e avaliar este “companheirismo”; Querem fidelidade, numa tradução restrita do vocábulo, e, às vezes, sem dar reciprocidade que deveria ser ampla, mas preocupam apenas com a restrição. Ser fiel para elas é apenas não entregar-se a outro homem. É uma observação simplista. Sem ampliar o verdadeiro companheirismo. O compartilhar das delícias que o corpo proporciona fica em segundo plano. São, talvez, ortodoxas e convencionais nos seus modelos de criação e visão que não querem reciclar entendimentos.
Para exemplificar registro um fato real dos tempos de faculdade quando uma jovem casada, falava aos quatro cantos que: “se meu marido me trair, ele é que é um sacana, safado e libertino, porque faço com ele, na intimidade, tudo que gostamos. Sem melindres, sem culpa, sem pecado. Fazemos sempre o que achamos bom e sentimos bem. Gosto do corpo dele, do cheiro dele e de tudo que ele faz comigo e eu com ele”. Falava de cabeça erguida, sem melindres, sem medo e sem pudor. Tinha um comportamento social exemplar. Era realmente companheira e fiel. Entregava-se na sua relação, e em contrapartida, para manter e preservar sua união conjugal ainda se gabava de seu comportamento e visão. Os que viam essa cena e ouviam tais elogios ficavam calados, pensativos e com uma inveja interior.
O que pensar desse exemplo? Deixo ao leitor as conclusões.
Ainda hoje, ouço conversas de mulheres/esposas, querendo enaltecer a beleza interior das pessoas, como se apenas isto fosse o passaporte para a felicidade. A beleza interior só é válida se a exterior, em ações concretas produzirem, através de atenção e carinho, o prazer e a satisfação que todos buscam. O resto é engodo.
No silêncio e no comportamento dúbio de muitas pessoas, indiretamente, cobram-se falácias. Fingem-se ignorar os porquês. Não vêem ou não querem ver o que acontece ao redor. Não há demonstração de gratidão nem de prazer.
A razão dessa dupla análise e conseqüência foi a ousadia de querer um sentir bem, no final de uma vida útil. Mas, infelizmente a vida não dá uma segunda chance nem duas safras.
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(*) O autor é bacharel em Letras formado pela UNIPAC - Universidade Presidente Antônio Carlos.
E-mail: edsong@uai.com.br