Bolinho frito com sexo e chimarrão

Os dois amigos chimarreavam ao final de uma tarde. Um costume de muitos anos. Conversavam sobre todos os assuntos. Falavam desde a crise econômica mundial até a performance de cada clube participante dos campeonatos esportivos. Quando dava aquele vazio na conversa, de uns poucos segundos, o compadre dava uma olhada para o céu e reclamava da falta de chuva, dando início a um longo debate sobre a falta de incidência e os prejuízos na lavoura e etc. A esposa do dono da casa estava por ali, prendada, sempre perguntando se precisavam de qualquer coisa.

- Um bolinho frito com canela?

- Brigado, comadre.

O compadre adorava os bolinhos fritos que ela preparava. Já tinha provado com canela, com açúcar mascavo, com temperos exóticos. Enfim, cada vez era um sabor diferente. Após deliciar-se com mais um pedaço de bolo, era inevitável o compadre elogiar a dedicação da comadre. Dizia que o amigo era de sorte por ter casado com ela, muito prendada, uma grande companheira. E além de tudo muito bonita.

- Tu acha ela bonita, então, compadre?

E o compadre ficou vermelho com a pergunta do amigo. Tinha dito no sentido de elogiar, não era de seu feitio cobiçar a mulher alheia. Apenas quis dizer da sorte que o amigo tinha de ter uma companheira como ela.

- Não fique corado, compadre. Te faço essa pergunta porque, bem, eu tenho uma coisa para lhe pedir. E confio em ti.

- Pois pode confiar.

- Como tu sabe, instalei aí no rancho uma internet. A gente fica proseando com os camaradas, pesquisa as coisas. Fica sabendo da cotação do milho, da soja, do quilo do boi vivo. E também conhece outras pessoas através dos messenger, chates, orkute, uébecam e essas coisas.

- Sei, sei. Meu filho passa pendurado nessas coisas.

- Pois bem. A gente acabou conhecendo uns casais aí que ensinam umas receita para o casamento não ficar na rotina, tu sabe como é...

- Sei, sei...

- E aí, funciona mais ou menos assim. Eu empresto a minha prenda pro outro vivente e ele me empresta a dele. É uma modernidade. O sujeito cobre a tua patroa, mas tu não vira corno, porque tu também tá cobrindo a dele. Fica elas por elas.

- Me dá um mate ligeiro que eu engasguei com essa prosa...

- Não fique corado, compadre. Tu parece que é do tempo de socar milho no pilão. Tem que aprender com os jovens. Se é bom para eles, é bom para nós.

- Tá bem, tá bem. Mas onde é que o compadre precisa de mim?

- Bom, eu ainda não experimentei essas troca e não sei como vou me comportar. Então, eu precisava que tu cobrisse a minha mulher, enquanto eu fico avaliando...

- C-como é que é?

- Tu não acha ela bonita?

- A-Acho, mas não pensei em...

- Deixa de bobagem, então. Taí a oportunidade.

- Mas tu é meu amigo. Não posso trair a nossa amizade.

- Mas se sou eu que estou deixando, tchê. Pode botar as mão.

- Preciso pensar sobre isso...

- Que pensar, rapaz. Mulher, pode vir.

E o marido chama a esposa, que surge de banho tomado, fazendo o compadre perceber que a coisa já estava mais ou menos arranjada. "Pode te pelar", ordena o marido, puxando a toalha que envolvia o belo corpo da patroa, que se achega próxima do compadre, já nervoso e excitado. O marido avisa que vai botar uma música, como costuma ver nos filmes. Sem muita opção, ele acaba optando por um CD do Evonir Machado. "Eu sou fodido quando eu chego na zona, eu sou fodido quando eu chego na zona, faço amor com as empregadas, mas primeiro vou na dona", diz uma das músicas.

E a patroa se roçando no compadre. E o compadre se roçando na patroa. E o marido retorcendo a toalha nas mãos, olhando aquela função toda. As roupas do compadre no chão. A comadre e o compadre por cima do sofá. E o marido avaliando e gostando daquilo tudo. Lá pelas tantas, ele resolve tomar as rédeas da situação e ora ordena para o compadre, ora para a esposa para fazerem assim ou assado. E foi assim durante algumas horas. Depois de concluídos os "trabalhos", a esposa se levanta para tomar banho. O compadre, já mais solto e assanhado, faz menção de querer acompanhá-la, mas o marido sentencia.

- Deixa que ela vá sozinha.

Foi a dica para ele se vestir e tomar o rumo de casa, mais ou menos como um cusco magro. Passou-se alguns dias e o compadre não tinha cara de ir na casa do amigo. Não sabia como seria recebido. Mas acabou cruzando com ele no mercado.

- Mas tchê. Tu não me apareceu mais. Se ofendeu com alguma coisa?

- Não, capaz. Só não tive tempo....

- Ora, deixa de bobeira. Vai lá tomar um chimarrão. A mulher tem umas receitas novas de bolinho frito.

E ele foi. Só que, diferente de outras vezes, ele se arrumou para ir. Tomou banho, fez a barba, passou perfume. E se foi para a casa do amigo. Que, logo, estranhou aquela produção.

- Mas e esse perfume fedorento? Mas vai te escovar com um bombril. Deixou até a bomba do mate perfumada, tchê...

Antes que o compadre se envergonhasse da observação, a comadre o salva.

- Eu gostei.

- Agradecido. E esse seu bolinho tá cada vez mais gostoso.

- Obrigada. Mas o compadre notou que não estou usando nada por baixo?

O compadre deu uma olhadinha para o amigo, que após sorver um mate fez um arram, limpando a garganta e consentindo o que viesse por acontecer. E assim, mais uma vez o compadre se atracou com a comadre e foi aquela safadeza. Agora, ele já conhecia os caminhos do prazer e sabia mais ou menos agradá-la melhor. Já era como uma dança, onde um acompanha o ritmo do outro. O compadre só perdeu o compasso quando viu o amigo com uma câmera nas mãos.

- Para que isso?

- Te aquieta que eu tô filmando para analisar melhor depois e discutir os detalhes com a mulher.

Apesar de aborrecido com a câmera, o amigo continuou a função toda. A comadre teve até o desaforo de espalhar alguns bolinhos fritos pelo corpo e convidá-lo a comer, o que ele fez com dupla satisfação. E o marido filmava tudo com muita atenção e, de vez em quando, também pegava um bolinho frito.

Depois de algum tempo, terminada a lida, eles se foram todos tomar mate. Com o detalhe que o marido era o único que estava de roupa.

- Essa água está pelando de quente- ele reclamou, com o olhar fixo no vídeo da câmara, conferindo a gravação.

- Não ficou muito bom. Vamos quer que refazer outro dia...

Pronto. Assim, o amigo já deixava engatilhado uma terceira vez que arrendaria a sua esposa para o compadre. E depois da terceira, ainda teve a quarta, a quinta e a sexta vez. Depois disso, um belo dia, o compadre recebeu um telefonema. Era a esposa. Estava apaixonada por ele. Direta, ela disse que queria sair para trepar, sem ser às vistas do marido. Do outro lado do telefone, ela ouvia o silêncio do compadre, até que este resolveu.

- Olha, vamos parar por aqui. Safadeza até vá lá. Mas traição não. Ora, se eu vou botar chifre no meu amigo?

E dali em diante, ele não atendeu mais telefone e nem respondeu os e-mails do amigo. Era melhor assim, antes que a coisa ficasse mais séria. De vez em quando, aos finais de tarde, ele chegava a sentir falta do amigo e daquelas prosas que iam desde a crise econômica mundial até a performance de cada clube participante dos campeonatos esportivos. E, claro, aquele chimarrão amigo com a água muitas vezes pelando de quente. Ele só não gostava muito de lembrar dos bolinhos fritos com canela. Foram eles que terminaram com uma amizade tão bonita...

Márcio Brasil
Enviado por Márcio Brasil em 26/12/2008
Reeditado em 26/12/2008
Código do texto: T1354104
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