Depois do Natal
Depois do Natal, não tem mais Papai Noel, mas o vermelho de suas roupas fica no saldo bancário.
Depois do Natal, as luzes se apagam e na escuridão não vemos mais as crianças desvalidas que presenteamos a um e noventa e nove.
Depois do Natal, o alegre badalar dos sinos transforma-se num zumbido incômodo de mal presságio.
Depois do Natal, os presépios são desmontados das prateleiras, vitrines e salas de estar, mas criancinhas nascendo no meio de animais e lixo fazem as lapinhas das periferias.
Depois do natal, não tem mais peru, mas talvez uma canjinha insossa na enfermaria de algum SUS.
Depois do natal, não se ouve mais “Jingle Bell“, mas o “Samba do Crioulo Doido”.
Depois do natal, não tem mais festa, só os catadores estão nas ruas, revirando os cestos de lixo para encontrar o atrasado presente do estômago.
Depois do natal, o “espírito natalino” é expulso pelo “espírito de porco”
Depois do natal, a criança sai da manjedoura e vai para as esquinas, mas não há mais reis magos para lhes dar presentes.
Depois do natal, a missa é do galo – que nunca é preto – enquanto galinhas e pintinhos continuarão discriminados e esquecidos.
Depois do natal, recolhem-se os perdões atreguados e renovam-se as mágoas.
Depois do natal, a esperança vai morrer com uma bala perdida e a paz será seqüestrada.
Depois do natal, o Cristo mal-lembrado é bem-esquecido.
Por favor, não deixem o natal passar. Fechem as portas, as janelas, parem os relógios, façam qualquer coisa, mas não deixem o natal ir embora. Por Cristo.