ESTILHAÇO VII - O mosaico de Karol Bauer
Berta me disse que não deveria me expor para gente que sequer eu conheço. Escrever fatos de minha vida para outros lerem seria, segundo ela, uma temeridade inconseqüente, coisa de quem não tem o que fazer. Eu adoro o jeito franco e espontâneo de Berta, minha amiga. Ela detesta computadores, por não dominá-los, por não ser de seu tempo. Também não é do meu, e nem o domino tão bem assim. Mas o tempo é um só, Berta! Ela não é germânica ou possui ascendência - chamo-a desse modo por questão de abreviação. Seu nome é Adalberta... Berta soa melhor, fica-me mais íntimo. Berta e Karol Bauer, as duas colegas de carteado e de conversas sem lógica. A coitada mistura a rodo as suas reais histórias com uma fantasia inventada, sem dar-se conta da mistura. Acho que Berta está caducando. Começa a falar de gatos no telhado que uivam como lobos. Ou do padeiro que lhe vendeu pães e esqueceu da manteiga. Depois diz que comprou manteiga para seus gatos, que adoram rosquinhas amanteigadas... E, nessa conversa mole, quase sempre me embroma no jogo. Berta sabe dar as cartas da vida... Berta sabe das coisas.