O VULTO LEVOU

O tempo passou, mas ainda lembro quando lá voltei...Um misto de emoção e tristeza tomou conta de mim quando rodei a chave na fechadura da porta da frente. Meus olhos fecharam-se e eu recordei um vulto partindo sem dizer adeus, apenas algumas palavras sem muito sentido... E, estava eu, diante da mesma porta semi-aberta me sentido o próprio aventureiro Allan Quatermain, o caçador de tesouros, só que eu não buscava as Minas do Rei Salomão, embora, também, caçasse um tesouro precioso . Sabia da existência dele, sabia o quão valioso era e sabia que a mim pertencia - era o que eu supunha - Empurrei a porta devagar e entrei casa adentro; meus olhos logo se acostumaram com a penumbra e começaram a vasculhar o ambiente. Por sobre a mesa da sala um maço de cigarros vazio; num outro canto, uma mesinha, sobre ela um jarro com flores murchas, e eram vermelhas...Um bar...Whisky...Vinhos. Na estante alguns livros, um aparelho de som e vários CDs; ainda no som, Greatest Hits e a última canção que deve ter sido ouvida – presumo - foi We Said Goodbye na voz de Dave Maclean. Buscava uma pista, um mapa; no chão da sala não havia papeis amassados. Segui corredor afora, e me deparei com alguém nas alturas, emparedado entre vidros sorrindo para mim. Avistei o primeiro quarto, camas feitas às pressas e nenhum papel sobre elas; segundo quarto, uma galeria de fotos na parede de meninos sorridentes e nenhum papel sobre as camas; terceiro quarto, cama feita, nenhum gato miando embaixo dela, mas papeis sobre a cama também não havia. Vasculhei o armário, as mesinhas de cabeceira e nada de pista do tesouro que buscava. E por que não no banheiro? Lá encontrei toalhas usadas, um resto de sabonete e nele nenhuma mensagem escrita, nenhuma pista. Só me restava a cozinha, nos armários e por que não dentro das xícaras... Nada encontrei. Sim! Nas redes da varanda! Também nada encontrei... Mas eu sabia que o tesouro existia! O tive em minhas mãos por alguns minutos! Ah, o meu tesouro... Pobre de mim... O que buscava...? Um simples caderno, onde poemas e mais poemas foram escritos e a mim não foi dado o direito de lê-los e eram para mim, segundo me foi dito... O vulto levou... O vulto me enganou... Mas também, seriam verdadeiras suas palavras...? Ou não seriam apenas palavras jogadas ao vento, manipuladas..., palavras..., palavras...,só palavras..., mentiras..., mentiras..., mentiras... Ah! Vá acreditar nos ditos homens, nos ditos amores...! Ainda bem, que a nós é dado o esquecimento, e hoje, casa arejada, portas e janelas abertas, nela posso entrar e sair e da sua varanda poder observar o mar, que hoje amanheceu calmo e tranqüilo, em perfeita harmonia com o meu estado de espírito, que neste momento está a exigir uma cerveja estupidamente gelada!

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 26/12/2008
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