25 e a educação? sumiu...
25 e a educação? Sumiu...
Por Poet ha Abilio Machado.
Seria dia comum se não fosse este, vinte e cinco dias de dezembro, o último mês do ano de Nosso Senhor dois mil e oito... Acompanhado da esposa e filhas saímos de nossa casa para o almoço de reunião familiar, que aconteceu este ano em casa da sogra.
Como possuo duas famílias, algumas filhas ficaram pelo caminho, para passar este dia com a mãe, meu pequeno grupo se dividiu então, nós seguimos em frente.
Chegamos ao terminal e com isso a baldeação de um ônibus a outro que faz a rota intermunicipal, o motorista com espírito natalino até esperou-nos para que subíssemos ao tubo e entrássemos, só depois colocou o ônibus em movimento, não havia nenhum lugar, estando com a neném ao colo verifiquei de quem poderia subtrair a concessão de um lugar, vi que no banco preferencial havia um menino que não devia ter mais que sete anos ao lado da avó, e ao fundo outro menino afrodescendente com o pai acredito, eu educadamente optei pelo do banco preferencial e disse:
__Oi vó, pode pegar o neném no colo?
__Venha cá que o homem quer sentar... – Disse ela de mal grado.
__Pode ser?!
__Não quero, quero ir na janela, dê o lugar você, ele que vá de pé... – resmungava o garoto e a senhora rindo da maneira do menino falar aquelas palavras.
A mãe postada do outro lado gritava ao menino para dar o lugar e ele sapateou e não saiu, a velha me fez uma indicada com a cabeça para que eu pedisse o lugar ao menino afrodescendente, me fiz de desentendido...
__Não entendi... – Disse.
__ Por que não pede ao outro? _ Disse então ela.
__Por que eu teria de pedir a ele? Acaso não está insinuando que por causa do tom de pele dele é ele quem deve dar o lugar para mim, não é isso né tia? – falei já a perder a paciência.
__É que meu neto não quer dar o lugar... E ele pode, né? – Disse ela entre uma cotovelada ou outra do menino, que não ouvia nem ela e tampouco a mãe.
Uma mão me tocou era um jovem que me chamava para tomar o lugar de sua esposa, fui contrariado, pois a preferência do lugar era nossa, pois estávamos com a criança ao colo, isso sem comentar a insinuação feita pela senhora que me sorriu amarelo de longe e eu falei em alto e bom som:
__Educação eihm senhora?! Já imaginou o menino neste ritmo daqui a alguns anos?
__Cara, ninguém segura! – Falou o jovem que cedera o lugar. _ Vai ser um perigo, quando completar uns doze ou treze o pai vai ter ensinado ele a dirigir, pois é a troca para conseguir que o filho lave o carro ou a calçada, aí ele começa a dar suas fugidinhas com o carro primeiro pela rua do bairro, aí vai cada vez mais longe, quando completar catorze ou quinze vai ser convidado para uma festinha ou outra, para não incomodar os pais que nas primeiras vezes vão buscá-lo, pois com certeza vai inventar uma história que ficou com medo quando passou em determinado lugar ou que o perseguiram na rua, o pai lhe dá as chaves do carro, e cada vez vai buscando a tolerância no alcoolismo e na velocidade, como a do policial que estava na viatura nesta semana e que encostou ao lado do carro onde um jovem estava sem camisa ao volante e com o som alto e o homem fardado fez sinal para a arma que estava com ele e gritou: ‘Oh cidadão, não deve dirigir assim’... O rapazote já levado pela embriagues e afrontador disse: ‘Antes de tentar me punir porque não vai tomar as chaves do seu filho que nem tem quinze anos que faz racha na nossa vila’... Automaticamente a viatura trancou a frente do carro, saltaram de armas na mão...’Que você falou, figura?’... ‘Eu falei que devia ir primeiro corrigir o seu filho para depois querer sacanear os outros’... ‘Algema o filho da mãe por desacato à autoridade. ’...
__ E é isso que acontece. Vai continuar acontecendo por que valores são trocados... Por que talvez até para passar de série na escola foi preciso uma troca, ganha tal coisa se tirar tal nota e assim por diante... Nossas vidas são cada vez colocadas à prova e nosso destino neste futuro continua indecifrável.
Conversa vai e vem, quando chegamos o pai do menino afrodescendente veio falar comigo, queria saber o que nos referíamos naquele momento e eu contei a maneira como entendi os gestos e a maneira que a senhora falou e ele ficou nervoso e disse que pena que não morava nesta região senão ia tentar encontrar a senhora e ter uma conversinha sobre aquilo e pasmem: Um processo.
__ Esqueça disso meu amigo, o que passou é ontem, temos que pensar para frente, é só não deixar acontecer de novo... Bem que vamos olhar para outro ângulo não é?! Ela estava a mais errada, mas o senhor também estava por que várias pessoas de idade estavam em pé enquanto seu filho estava acomodado ao invés de estar sentado ao seu colo, não é?! – Disse eu.
__Mas...
__Não esquente, existe uma palavrinha que se chama: empatia, que é se colocar no lugar de... Se acontecer uma coisa parecida e tenho certeza que vai, se coloca no lugar, tipo: nossa se eu estivesse vindo de um trabalho pesado gostaria de ter um lugar para descansar, poxa e se eu vim ao médico e estou desde a madrugada em uma fila para ser atendido e nem me alimentei ainda... Será que não mereceria um lugar?! Pensa aí meu colega...
__Tudo bem e da próxima vez pode deixar que pego meu filho no colo e deixo espaço para alguém sentar...
__Um abraço e feliz natal!
Sei que não aceitou minha argumentação, mas a palavra processo já faz parte do seu vocabulário, eu vejo tudo que aconteceu neste dia 25 como um momento de reflexão: nossas crianças qual futuro as aguarda nos dias que virão?