Amando o verão

Aqui estou eu dentro do verão. O verão que me apaixona. O verão que quase me entorpece. E o que vou escrever agora é, seguramente, para ser publicado na Internet. Talvez no ótimo portal de variedades para o qual colaboro sobretudo como cronista musical, talvez para o também ótimo site destinado prioritariamente a escritores amadores, semi-profissionais e afins – e tal site tem sido há um bom tempo uma espécie de diário pra mim. Um diário psicopoético, pois não escrevo memórias e acontecimentos nele da forma linear como se faz com diários, mas sim em forma de poesia, na maioria das vezes. Parece não haver mais tempo na vida para diários de papel.

O verão sempre me lembra a minha infância. Uma infância de menino do interior a nadar destemidamente e com um prazer inenarrável em rios de águas quase sempre barrentas. No caminho para tais “balneários” eu ia pelo asfalto quente – que já derretia em alguns pontos – com minha bicicleta enorme e velha. Às vezes eu ia meio que sem destino e adentrava em certas estradinhas escuras pra saber que o tinha no final. Muitas vezes o que eu encontrava no final de uma dessas vias misteriosas eram cães muito bravos a guardar sítios e fazendas. Então corríamos em disparada. Às vezes me vinha – a mim e a meus dois ou três companheiros de jornada – uma tempestade. Uma vez deixei meu irmão de criação horrorizado quando uma enorme tempestade nos acometeu subitamente e eu disse “graças a Deus!”, para seu espanto – ele, bem mais velho que eu, estava aterrorizado com a violência da água e dos trovões. Ele não compreendeu o meu enorme prazer ao receber contra o rosto e o peito aquela enxurrada de água gelada apesar dos riscos das descargas elétricas a ameaçar os cabos e galhos que margeavam a estrada, e a ameaçar nossos corpos.

Naquela época, o que eu pensava sobre aqueles adultos que viviam a dizer coisas do tipo “bons eram os tempos de criança”, é que eram uns babacas otários. Eu doido pra ser logo grande e poder fazer “de tudo”, enquanto eles ficavam reclamando do mundo adulto naquela atitude ingrata.

Hoje cá estou: um adulto no verão. E o que eu penso? Como era bom meu tempo de criança. Hoje tenho que calcular os riscos de uma tempestade. No entanto, continuo, sim, amando a chuva. E, tenho certeza, ainda topo tranqüilamente um passeio daqueles.