Quinta-Feira

Como de costume, todas as quintas-feiras, vou para o café. Sempre sento na mesma mesa e na mesma cadeira, gosto daquele lugar, dele consigo enxergar todo o movimento que acontece na rua, unido ao capuccino e à meia dúzia de pães de queijo, passo a criar personagens para as pessoas que pela rua transitam.

Porém, houve um dia em que ao chegar ao café logo avistei que algum ser escabroso havia tomado meu sagrado lugar. E agora? Como poderia eu tomar meu capuccino, comer meus pães de queijo e invejar a felicidade das pessoas que passam na rua sempre acompanhadas sorrindo...sendo felizes? De qualquer maneira, sentei-me na mesa ao lado e fiquei encarando a, sem nenhuma discrição! Ela finge não notar, mas ela sabe que está muito equivocada só por estar ali. Como alguém pode ser atrevida a ponto de tomar meu precioso lugar para ler jornais? Como toda a vida rolando se transpassando por através da janela e a moça, uma belíssima moça, ali isolada, ignorando a tudo e todos no seu mundinho... Tão, pequeno e insignificante, quanto aquelas folhas de jornal em suas belas e brancas mãos. O Fato é: Não havia mais como negar. Apaixonei-me pela moça que roubou meu lugar! O que a tornava mais atrevida, não contente com meu lugar passara a tomar meu coração para si. E para terminar de conquistar-me ela chama para ser atendida pela minha garçonete, aquela que nunca lembro o nome mas que ela sempre lembra o meu, e pede-me para que eu leia alguns de meus poemas e ainda ameaça-me não trazer o açúcar.

Já estou recoberto por fúria que se confunde com o amor que nasce em meu peito. Não sei se quero ir lá lhe dizer que a amo e não sei viver sem ela ao meu lado ou se vou até lá e lhe jogo todo o café sobre ela. Foi neste momento que toca meu telefone. Minha mãe já com ar de desesperada me pergunta onde eu estou como se ela não soubesse onde eu estaria naquele horário naquele dia! Respondo-a já gritando “hoje é quinta-feira, tchau”

Ao desligar a moça se inclina sobre a mesa e me diz:

_Perdoe-me rapaz, não quero me meter, mas hoje é quarta-feira.

Meu amor acabou!

Eduardo Henrique Bindewald
Enviado por Eduardo Henrique Bindewald em 25/12/2008
Reeditado em 13/10/2010
Código do texto: T1352210
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.